terça-feira, 11 de agosto de 2009

O dois da escarpa

Em Miranda do Douro, na fraga que cai sobre o rio, fronteira à cidade, existe uma zona a que chamam "escarpa amarela," pela cor que lhe dão musgos e líquenes. Com alguma atenção, pode ver-se o algarismo 2 desenhado na rocha.
A curiosidade está em que é um fenómeno puramente natural. De resto, nenhuma mão humana teria conseguido produzir aquilo, dado que aquele ponto é de muito difícil acesso, senão impossível. E, francamente: quem se daria ao trabalho e aos perigos de escalar ou descer tão medonha fraga para lá colocar um mísero 2, que não quer dizer coisa nenhuma? Ainda se fosse um 3 ou um 7, números mágicos, ou um "Amo-te Tatiana," a coisa valeria a pena. Mas um 2, essa balofa simetria, esse nem ata nem desata? Ninguém arriscaria o esqueleto por tal coisa.
É pena que a própria Natureza tenha demonstrado imaginação tão banal, e tão prosaica. Essa Natureza que já fez ver aos homens a face de Cristo ou da Virgem em lugares tão improváveis como túneis de metro e tostas mistas, podia ter feito um jeitinho ao município mirandês.
E daí, se calhar foi sábia, a natureza. Ao escolher um símbolo tão neutro como o 2, limitou-se a mostrar as suas habilidades sem proporcionar movimentos místicos de massas que viessam dar cabo destas terras honradas, enchendo-as de multidões alucinadas.
Miranda que vá ficando com as pequenas hordas de espanhóis que lá vão comprar toallas e muebles a bom preço. E ver o 2 da escarpa, já agora. É que este deve ser um caso único no Planeta: o fenómeno situa-se na margem espanhola do Douro mas, dada a sua localização, não há um único ponto do território espanhol de onde seja possível vê-lo. Quem o quiser fazer, tem que vir a Portugal. É deles, mas só nós é que aproveitamos. Bem feita.


1 comentário:

  1. Mai nada...os espanhóis são tao ruins que nem a natureza lhes liga e faz lhe aquele sinal tao caracteristico do Zé Povinho que o Bordalo imortalizou, ganda natureza !

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