sábado, 5 de setembro de 2009

Ruina montium

Estas belíssimas formações cor de salmão não são naturais. São o resultado de uma violenta agressão humana sobre a paisagem e o ambiente. Agressão essa, para mais, levada a cabo por um poder imperialista na sua desenfreada exploração dos recursos naturais de uma terra subjugada.

Ficam no sítio de Las Médulas, comarca do Bierzo*, província de León, Espanha. Resultam da exploração de ouro a céu aberto aqui feita pelos romanos a partir de 25 AC, e até inícios do século III DC.

Para extrair o ouro, os romanos não estavam com meias medidas: canalizavam a água de rios e lagos das redondezas, injectavam-nas por meio de túneis escavados nos montes, e esventravam-nos. O método chamava-se significativamente ruina montium. Acho que não é preciso traduzir. Diz-se que, desta forma, escaqueiraram completamente o monte Medulius, que existia neste local da Hispânia Tarraconense. Ao fim de dois séculos, até a exploração ser abandonada, tinham extraído mais de um milhão e meio de toneladas de ouro.

Esta brutal patada humana na natureza é hoje uma paisagem belíssima, e está classificada pela UNESCO como Património da Humanidade.

Quem sabe que belezas nascerão futuramente das nossas lixeiras, das nossas pedreiras, das nossas tropelias? Tenhamos fé, irmãos, e não desesperemos.

* O Bierzo é uma comarca situada na zona de transição entre a Galiza e Castilla-León. Na parte ocidental, fala-se galego; no centro, fala-se asturo-leonês (grupo a que pertence o mirandês, falado em Portugal); e, na parte oriental, fala-se o castelhano. Isto resulta numa curiosa e quase "balcânica" querela aqui mesmo ao pé da nossa porta, com discussões infindáveis e por vezes violentas, na imprensa, nos blogues e onde calha, sobre a verdadeira natureza cultural, étnica e linguística do Bierzo.

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