sábado, 9 de janeiro de 2010

Apontar é feio

A mãe de Orhan Pamuk dizia-lhe, quando ele era criança: "Não se aponta que é feio." Mais ou menos na mesma altura a minha mãe dizia-me exactamente o mesmo.
Entre uma e outra havia 5 mil quilómetros, e um mundo de diferenças culturais. Mas lá e cá os mesmos simples gestos podiam ter o mesmo significado, a mesma irrelevância ou a mesma gravidade. Apontar era feio, fosse aqui à sombra das igrejas de Lisboa, ou na outra ponta da Europa, sob os minaretes de Istambul.
Não sei se a mãe de Pamuk também lhe dizia para não falar com a boca cheia e para tirar os cotovelos da mesa. Ele não o conta nas suas memórias de Istambul, mas era capaz de apostar que sim. Há muita coisa familiar que nelas passa em filigrana, estranhamente familiar. Nós, pessoas, e nós, povos, somos muito mais iguais do que julgamos.

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