quinta-feira, 15 de abril de 2010

Momentos

Fala com ela. Todos os dias lhe conta o que sabe e ouve. Brinca, zanga-se. Lê-lhe o seu querido Alberto Caeiro. Põe-lhe Bach em surdina junto ao ouvido, a "Paixão Segundo S. Mateus," que ela também amava, e ama. Todos os dias a massaja, a acaricia, lhe põe o seu perfume YSL. E conversa com ela, e lê-lhe, e não desiste. Não sabe se ela a ouve. Sabe, sim, que provavelmente vai perder a batalha. Mas não desiste. Os médicos dizem que pouco há a esperar, o coma é profundo, o cenário é crítico. Mas nunca nada é certo, já viram de tudo. Um enfermeiro disse-lhe há dias: "Acredite. Precisamos que vocês acreditem, para nós também acreditarmos." E ela acredita, levando tudo à frente. Não é uma crença patética no milagre, é a certeza de que, aconteça o que acontecer, há que lutar até ao fim. Já lá vão quase duas semanas que tem a Mãe naquele hospital. Possivelmente muitas mais passarão, mas não vai desistir de a trazer de volta.
Neste momento, quase não a tenho nem sei quando a terei. Mas é, mais do que nunca, a mulher da minh'alma.
Não fui a Espanha.

3 comentários:

  1. Espero que a Mulher da sua alma não desista nunca. E vença a batalha.

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  2. já estive 7 dias em coma profundo, depois mais 3 vezes e provavelmente terei outros comas, dizem que minha filha botava Casta Diva(callas) e caruso(Pavarotti) para eu escutar todos os dias. Será por isso que voltei?

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  3. Além das músicas(Caruso e Casta Diva), meu filho mais jovem recitava o poema de Casimiro de Abreu, MEUS 8 ANOS no meu ouvido, até hoje quando escuto esse poema(Paulo Autran) tenho a sensação de que o som vem de muito longe.
    Eles sempre acreditaram e acreditam que voltarei ...

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