segunda-feira, 14 de junho de 2010

A casa que vomita silvas


Um dia foi casa de gente. Depois ali ficou abandonada, casa de nada e ninguém. Como se uma qualquer força continuasse dentro dela, o tempo encheu-a de ervas e silvas que agora vomita por janelas como órbitas vazias de uma caveira. É uma entre muitas que semeiam o interior português.


Está para ali, no Ribatejo, além da vila de Ulme (Chamusca), já a entrar na chamada "charneca" a sul do Tejo, que vai até Ponte de Sor e ao vale do Sorraia. Este país é assim: a dois passos da preciosa lezíria ribatejana e terras adjacentes, é uma das regiões mais inférteis, desoladas, ermas e bravias de Portugal - o deserto de que um dia falou um ministro, reino de milhafres, memória de almocreves, passagem de algaras e fossados em terras de mouros. Nada de jeito ali pega, é só areia e cascalho. E casas que já foram de gente, vencidas pelo matagal. Mas não convencidas.

3 comentários:

  1. A propósito de silvas: sabias que são protegidas? Consta que um alentejano levou uma caçetada descomunal dos fiscais do Ministério do Ambiente por inclui-las numa queimada, há uns anos. Se fores ao Poço do Inferno perto de Tavira, encontras uns passadiços de madeira, lindos e funcionais, quase intransitáveis por causa dessas moitas.
    Eis a minha boa acção do dia. :)

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  2. Ainda bem que ai são as janelas, pois aqui são as urnas eletrônicas que vomitam Silva's.

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  3. Retificando, casa em vez de janelas(confundi com o nome do blog)

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