quarta-feira, 30 de junho de 2010

Flagrante da vida real

São nove e tal da noite, as vuvuzelas calaram-se na Cidade do Cabo. Um silêncio lúgubre paira sobre a praceta para onde dá a minha varanda. De súbito, e certamente saído de um andar ali ao virar da esquina, onde se afixa uma bandeira espanhola, esganiça-se um grito de mulher: 
- España! España!
Como se estivesse à espera, solta-se logo uma tremenda voz de macho magoado, vinda não sei de que outra janela, mas do fundo da alma:
- Cala-te, filha da puta!
Durante bastante tempo depois, só o ladrar desgarrado  de cães longínquos volta, aqui e ali, a quebrar o silêncio.

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