segunda-feira, 14 de junho de 2010

História belga

"Disseram-nos: 'Vão para Bruges'. Eu nem sequer sabia 
onde caralho era Bruges." 
(Pausa) 
"É na Bélgica."

(Monólogo em off de Colin Farrell no início de "Em Bruges")


Eu uma vez estava numa exposição em Bruxelas e parei por segundos junto de um grupo que ouvia um guia. Imediatamente um burguês de bigode me olhou de lado, arremelgou a sobrancelha e disse-me naquele francês de sopeira que têm os belgas: "Je ne me souviens pas de vous voirrr dans notrre grrroupe." Apeteceu-me mandá-lo à merrrda.
Nunca gostei muito dos belgas. Um povo que come mexilhões com queijo derretido não merece grande respeito. E terra que tem por atracção um puto a mijar numa esquina não promete ser excitante.  Não me lembro de algum dia ter visto uma belga de jeito, são todas uns pãezinhos sem sal. Uma das poucas coisas que a Bélgica tem de bom é produzir uns franceses excelentes, como o Jacques Brel. Só mesmo este tipo conseguiria comover-me com uma canção sobre a Bélgica, e que é uma das mais tocantes declarações de amor a um país em poema e música que conheço. E logo à Bélgica. Que coisa tão mal empregada. Só podia chamar-se "o país chato."
Uma vez mais os separatistas flamengos ganharam eleições. O país não consegue ter um governo como deve ser - nem precisa, a bem da verdade. Os belgas são todos como o burguês da exposição, uns picuinhas que têm tudo organizadinho naquela cabeça. Aquilo não é um país, é uma direcção-geral, que vai funcionando por si própria. É um gabinete. O colorido D. Jaime de Móra y Aragón, que tinha não sei quantos reis, imperadores e Grandes de Espanha na família, comentava da sua irmã Fabiola: "Mi hermana es emigrante en Belgica. Trabaja de reina." Mas a extrema-direita belga (flamenga) é uma das mais caceteiras da Europa. O Vlaams Blok é uma coisa de perder a paciência. Os nacionalistas defendem coisas absurdas. Há taxistas que insultam pelo rádio quem não os chama em neerlandês. Se alguém for de língua francesa não pode comprar casa na Flandres. E depois nós é que somos os grunhos.
A Bélgica foi uma invenção inglesa. O mundo viveu perfeitamente sem ela até 1830. Nessa altura, estava na moda inventar países e ir buscar um príncipe alemão desocupado (havia imensos) para reinar neles. Agora, está a desfazer-se.  Por mim, não acho que daí venha grande mal ao mundo, e para muitos belgas parece que também não. O mundo pode muito bem voltar a viver sem ela, e aguentar mais um Saxe-Coburgo no desemprego. Levem lá o Manneken Pis, o rei e os mexilhões com queijo, e deixem-nos ficar Brel, Brueghel, a cerveja e o Tintin.

6 comentários:

  1. Que poema lindo, obrigada
    Teresinha

    ResponderEliminar
  2. de facto lembro-me de ter um dia perguntado a um belga como raio se tinha formado o país e ele não me soube explicar, grunhiu, titubeou e lá se safou introduzindo o Preud'homme na conversa; já agora tb nos podem deixar ficar com ele? e as bolachas ("Belgas")? e as couves de bruxelas? e aquela escritora famosa qu'até já li um livro dela do princípio ao fim? e os neendertais ficam com um país só pra eles? e quem clho é o Brueghel qu'é pra saber se quero ficar com ele?

    ResponderEliminar
  3. Não sei quem é, mas ouvi falar e achei o nome giro.

    ResponderEliminar
  4. Que mau feitio!!!!
    Os Belgas também não se importam que não gostem deles.
    O que é certo é que vivem melhor que nós

    ResponderEliminar
  5. E por que carga de água tenho de gostar de alguém só porque vive melhor do que eu?

    ResponderEliminar
  6. suspeito que o sr. Bush lê o Janela48, se não vejamos:

    "QUOI ? LES BELGES GOUVERNENT L'EUROPE ?"
    C'est ce que se serait exclamé l'ex-président américain George W. Bush en 2001 en apprenant que la présidence tournante de l'UE était assurée par la Belgique. "C'est qui ce type ?" avait d'abord demandé M. Bush à Tony Blair, au sommet du G8 à Gênes en 2001, en apercevant l'ancien premier ministre belge Guy Verhofstadt, présent au G8 car son pays assurait la présidence tournante de l'Union européenne. "C'est le premier ministre belge", répondit Tony Blair.
    "La Belgique ?" a alors rétorqué un Bush stupéfait. "La Belgique ne fait pas partie du G8 !" a-t-il ajouté. Ce à quoi Tony Blair a répondu : "Non, mais il est ici en tant que président de l'Europe". "Quoi ? les Belges gouvernent l'Europe ?" a aussitôt réagi M. Bush, en secouant la tête. (Le Monde)
    ps: isto é mais pra dar a impressão que leio o le monde, c'est chic!

    ResponderEliminar