sábado, 28 de agosto de 2010

Novela dos simples*

Ver actores nas novelas portuguesas a pretender representar personagens "populares", "rudes" e "puras" é um espectáculo deprimente que diz tudo sobre o modo como as "elites" (com muitas aspas) vêem o país, e nada sobre o país.
Na interpretação desses actores, geralmente saídos de passereles de moda ou de tascas do Bairro Alto, e que só se aventuraram para fora da cidade besuntados de creme solar de écrã total, interpretar um simples pescador de Setúbal,  ou um moço de estrebaria do Ribatejo, significa fazer caretas, falar e gesticular como um atrasado mental arraçado de babuíno, e ter  a clarividência de um malmequer. Para não falar de uma rapariga meio selvagem que habita uma novela actual e que é, como persona, tão convincente como o primeiro-ministro a dizer que não há crise. A pequena mais parece uma menina parva de Massamá com birra por lhe terem tirado o IPod do que a "força da natureza" que supostamente representa.
A culpa não é só deles e do seu talento dramático equivalente ao de abóboras, mas sobretudo das respectivas direcções de actores, fazendo a fineza de acreditar que existem. E de quem lhes escreve as falas, já agora. Estas interpretações são de quem não faz a mínima ideia do que é ser simples, puro, ou simplesmente humano. Confundem candura com imbecilidade. Macaqueiam modos que não sabem representar, traduzindo-os num espectáculo grotesco. E são praticamente um insulto ao tipo de pessoas que pretendem encarnar. Se eu fosse pescador  ou moço de estrebaria, fazia-lhes uma espera.
E não me macem com comentários género "é bem feito, quem te manda ver novelas," e ditos correlativos. São outras tantas baboseiras. Toda a gente vê novelas, nem que seja uma vez na vida. E bastaria essa vez para perceber isto.

*Este foi posto ali noutra tasca, mas depois apeteceu-me pô-lo também  nesta.

23 comentários:

  1. Concordo consigo ao imputar as aberrantes interpretações às direcções de actores e autores das falas que demonstram desconhecer o país que tentam retratar. Por essas razões, não vejo novelas há cerca de 3 anos.



    há cerca de 3 anos deixei de ver novelas

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  2. Oh JPB, aliás sr. João Pedro B., vc por acaso não escreverá no inimigo público? ou tem lá seguidores?
    roubou-m'a ideia mas disse muito melhor do que eu diria; muito bem, muito bom e como sei q gosta de toiradas ... OLÉ!
    ps: estou cuma coceira atrás da orelha, pq será?

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  3. uma ressalvazinha para a novela que passou na sic, tinha lá pelo menos duas jovens actrizes bem boas (nos dois sentidos) e a "parte cómica" até estava com piada; mas verdadeiramente não sei, pq já não vejo novela há 3 anos 3 meses e 3 dias

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  4. Eu não sei há quanto tempo as não vejo, e que saudades, Meu Deus.
    Vejo relances quando me entrego ao excelente desporto pós-prandial que é o zapping, e fixo-me aqui e ali. Lembro-me de ter seguido três novelas, in illo tempore: a Gabriela, como toda a gente; o Bem Amado, com aquele fantástico prefeito de Sucupira que queria inaugurar o cemitério mas ninguém morria naquela terra saudável (acabou por ser ele a inaugurá-lo) e que falava "apenasmente" o português mais inventivo que eu já vi em televisão; e o Roque Santeiro, do Sinhôzinho Malta e da magnífica Porcina da Silva ("Da Silva? Eeeta, familiazinha numerosa, ein?")

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  5. Será mesmo que os actores, directores de actores, os realizadores, os argumentistas são assim tão maus? Ou será que só dançam ao som da música que lhes tocam?
    A música que lhes tocam, é a que vende, o drama é esse, digo eu que sou trenga!
    Teresinha

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  6. A música que se vende é a música que se queira vender. Há 40 anos, o Vitorino Nemésio e o João Villaret passavam em horário nobre. O povo come o que lhe dão.

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  7. Não entendo muito de novelas nem do desempenho de atores e diretores brasileiros ou portugueses, porém dentre tantas séries,assisti esporádicamente Rei do gado e Roque Santeiro, ambas de cunho ruralistas, os atores deram um "banho" de interpretação.
    Elenco, cenário, roteiro, costumes e trilhas sonoras estavam impecaveis e impagaveis.
    Deveria ter assistido com mais assiduidade.

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  8. PJB: que saudades mesmo, geniais! e eu que já tinha esquecido o "apenasmente"...

    ... poinão mas olhe que se ajudei em alguma coisa foi sem querer rsrsrs

    Nilza: tem preconceito contra telenovela e perdeu essas e outras boas novelas eheheh; as telecoisas a que JPB se refere, acredite nele, "são praticamente um insulto ao tipo de pessoas que pretendem encarnar", pode manter o preconceito

    não sei pq não consigo deixar de concordar tanto com o Anónimo Teresinha como com JPB, o povo come o que lhe dão, e dão-lhe o que o povo come

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  9. Seu Abel,

    Mas quem disse que tenho preconceito com novelas?
    simplesmente não gosto de assitir porque quando são de boa qualidade tornam-se viciantes, e eu me recuso a ficar dependente de alguma coisa que tenha dia certo e hora marcada.
    O senhor agora deu pra implicar comigo, que coisa!já não basta a vassoura que me arranjou?

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  10. Desculpe-me Sr. JPB ocupar seu espaço pra falar com sr. Abel, mas tinha que ser por aqui mesmo,precisava esclarecer que não tenho preconceito com quase nada, só com preconceituosos.

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  11. quem disse quem disse, quem disse fui eu, ora; ai num tem preconceito contra (quase) nada e confirma um e adianta logo outro? mas num tem um não, tem um carrêgo d'eles, inclusivé contra brasileiro em geral, e a senhora-você-mesma em particular!
    não me desculpe JPB por l'ócupar o espaço, afinal bocê num paga nem mais um tostão por isso; só entre nós, a senhora preconceituosa tem uma ilha só dela, mas pode-se visitar à sucapa em http://rouquentin.blogspot.com; mas "não espalha!"

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  12. Já que me tascou um monte deles mesmo eu dizendo que(quase) não os tenho só me resta engolir, fazer o quê? vai adiantar dizer que está equivocado? não vai...
    Essa doeu, afxxx!!

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  13. Sejam amigos, como diria o Jorge C.

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  14. num podemos ser amigos, a senhora amanda-me cum afxxx nas trombas, o senhor amanda-me cum Jorge C. que num dá sequer pra guglar! eu sempr'arrainjo cada amigo...

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  15. O Jorge C. está aqui. Vão lá, que vale a pena.

    http://blogavalon.wordpress.com/

    http://manualdemauscostumes.blogs.sapo.pt/

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  16. Só para tirar a dúvida: JPB refere-se às telenovelas feitas em Portugal, somente... Não?
    Linda foto a do crepúsculo no Estoril.
    D.Furtado

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  17. Falando de novelas o que acabei de ler em comentários até parece uma série, mas cómica... Deve ser pelas razões por vós aqui apresentadas que já não vejo novelas há uns 5 anos e pouco da tv portuguesa,são só novelas atrás umas das outras e concursos,contudo é a realidade,pois a maioria dos portugueses vê novelas e ainda por cima comprar revistas para saberem o que se vai passar antecipadamente(há que investir e criar postos de trabalho). Ouço muitas vezes comentarem as novelas como se de casos de família,amigos ou vizinhos se tratasse(viste aquela ,anda com aquele que tem uma fortuna... o fulano vai dar cabo do outro...desgraçada daquela é tão mal tratada...) e por aí a fora.
    As novelas têm que ser produzidas em série como duma fábrica se tratasse e saírem fornadas de novos actores como nos "os morangos com açucar" para,segundo várias opiniões, mostrar aos jovens os perigos da sociedade. Serão assim tão pedagógicas? Talvez!!!!
    O que é certo é que quando fomos invadidos pelas novelas brasileiras o povo nem falava português nem brasileiro,algo no meio. Para quem não estava habituado a ouvir o português durante um ano,ao chegar a portugal sentia-me num país estranho.
    Acrescento que gostei ver a grabriela cravo e canela e as primeiras novelas portuguesas, nas quais os nossos actores ainda se estavam a ambientar em não serem tão teatrais. Tchiiiiii já lá vão uns bons anos.

    MJM

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  18. eu gosto assim, que é para perceber logo que um pescador de setúbal é um pescador de setúbal. o o moço da estrebaria, por exemplo, devia actuar sempre com uma poia de cavalo na mão. como fazem com as empregadas domésticas, andam sempre fardadinhas e ninguém as confunde.

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  19. Essa das empregadas domésticas é outra. Além de fardadinhas à antiga, como não se vê há séculos, são portuguesas - o que é ainda mais inverosímil.

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  20. Inverossímil? não existe empregada doméstica portuguesa ou a inverossimilhança é relacionada aos fato de estarem fardadas?

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  21. Já não existe empregada doméstica portuguesa. Como diria o outro, é como pobre em hotel de 5 estrelas - pode até ser que haja, mas nunca se viu nenhum. Geralmente são imigrantes africanas (das antigas colónias portuguesas, brasileiras, ou do Leste europeu.

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  22. doméstica enfarpelada só conheço dos novelos da tvi;
    empregada doméstica residente? concordo, a espécie extinguiu-se;
    prós meus lados há trabalhadoras de serviço doméstico, a tempo inteiro ou parcial, geralmente portuguesas, e há as chamadas "mulheres a dias", ao dia e a meio-dia, tambem geralmente nacionais;
    agora assim tipo tvi, ou melhor tipo brasileira (novela!), novinha, nos trinques, de mini-saia e avental, bem falante, opinante, psicóloga de família, de coração apertado pelos patrãozinho e plos filhinho ... não s'arranja, é que já não s'arranja! ora bolas

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