quinta-feira, 26 de agosto de 2010

O som do silêncio

Costa do Estoril, quarta ao fim do dia. O pontinho branco no céu não é defeito, é mesmo a "Estrela da Tarde"

Eu queria uma mesa com vista para o prato mas, desta vez sem exemplo, não fazia muita questão do que estivesse nele, desde que também houvesse vista para o mar glorioso que estava no crepúsculo desta noite. Era um mar muito azul, que ia bater no laranja do céu. 
Estava uma dessas atmosferas raras no Verão, límpida como a alma de um santo. Podiam contar-se as luzinhas na Costa de Caparica e ao longo do arco que vai até ao Espichel. Mesmo que o crepúsculo não fosse eterno, como apetecia, eu não podia ir já para casa. Tinha que ficar ali uns tempos a ver e a sentir tudo aquilo, e a noite quente. E tinha uma fome de forçado das galés. 
Precisava de uma esplanada frente ao mar, em resumo. Fui em demanda. Muitas estavam cheias, outras nem tanto. Mas em todas - todas, sem tirar uma - havia música a berrar.
É sempre assim. Nunca consigo encontrar a porcaria de uma esplanada silenciosa, onde se possa estar sossegado. Tem sempre que ter música a tocar - e geralmente, daquela que faz imenso barulho. Sítios lindos, onde se podia estar a ler, ou a ouvir o mar, ou os passarinhos, ou o silêncio, e tungas, põe funky nisso, porque a malta adora. Pumps, pumps, pumps, oh yeah.
As pessoas têm medo do silêncio. Deve ser porque o silêncio as confronta consigo próprias, e depois não gostam do que vêem. Têm que ter sempre uma musiquinha em fundo, porque sem isso o mundo delas fica descarnado, vazio, sem sentido. Sem banda sonora, a vida das pessoas fica demasiado real.

17 comentários:

  1. Sobre o silêncio:

    "(...) amo o silêncio e encaro a solidão como a suprema liberdade das amarras interior, recolher-se em sí mesmo é extirpar vícios para aperceber-se das virtudes, é supreendentemente prazeroso(...)".

    "(...)adoto o silêncio como fiel conselheiro, fonte inesgotável de sapiência, que me conduz com maestria e delicadeza a simplicidade interior, a refrear meus impulsos que liberta de forma grandiosa o prazer de dar-se a si mesma sem o suscitamento de inquietações e é embalada nessas sensações que encontro respostas, aprendo a conviver com as diferenças, superar dificuldades de relacionamento, exorcizo meus fantasmas e renovo meus instintos de auto-proteção e auto suficiencia."

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    1. Nilza Rouquentin que é feito e você amiga ?? sua saúde ???
      abraço
      Humberto Baião
      Évora
      Portugal

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    2. Nilza Rouquentin que é feito e você amiga ?? sua saúde ???
      abraço
      Humberto Baião
      Évora
      Portugal

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  2. Pois a minha experiência por aqui (Grande Alface) é de muitas esplanadas silenciosas sobre o rio ou sobre a cidade. Se há música de fundo – raramente – é tão serena e ao fundo, que mal se dá por ela. Concordo que o silêncio confronta as pessoas com elas próprias, na perspectiva da extrema dificuldade que muitos hoje sentem em preenchê-lo (ao silêncio): simplesmente porque não sabem conversar, nem com os outros, nem com os seus botões. Mas neste aspecto, equiparo o silêncio à boa e discreta música ambiente. Ambos realçam essa dificuldade. Só a tal música aos berros realmente a faz esquecer. :-)

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  3. Na minha parca experiência - não sou frequentador assíduo de esplanadas, só episodicamente - são raros esses sítios com música tão suave que mal se dá por ela. São excepcionais. Ou então tenho tido azar.
    Mas na maior parte dos casos, mesmo a suave música ambiente me incomoda. Cada um deve poder preencher o silêncio como quiser.
    Claro que os casos que mais me irritam são aqueles junto ao rio, ou junto ao mar, nos quais os sons "naturais" (nestes incluo o ruído de fundo da cidade) ficam submergidos pela música. Porque são esses sítios que geralmente me apetecem para não ouvir mais nada que não seja eu próprio ou os ditos sons.
    Ontem a noite estava quente, o crepúsculo estava lindo, as ondas batiam lá em baixo na falésia, cheirava a maresia, e eu tive que comer uma salada a ouvir um estupor qualquer a tocar pratos de gira-discos.

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  4. não há pachorra pra música ambiente, pqp! ah mas eu chooooooro porque v. teve que gramar o pumps pumps pumps, vai ver é tratamento vip pra quem quer ouvir a natureza a preço duma salada; "oh zé dá-lhe co funky, dá-lhe co rock&roll, rock-chula, rock-chula, yeah!"
    olhe experimente esplanada com tv! à hora do preço certo! ou uma barreirada cacofónica com cozinhas e garagens da vizinha! "IÚ SENHORE O QUE BAI SERE?", "OLHE VAI SER O CLHO SE NUM ME TRAZ A CUONTA, JÁ!"

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  5. bem agora que já baixar'o blume já consigo oubire a teleapatia da lara li nos óscultadores inquanto lei'um poema de Nilza Rouquentin, mas...

    "olhe o senhore desculpe da música alta, eu bem digo ó meu filho mas sabecumué, só gosta destas músicas modernas ós berros"

    pronto deu cabo de mim! "desculpe o senhor, sabe, é deste calor, fico irritadiço..."

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  6. Eu também tenho tido dificuldade em evitar essa música ambiente. Mas pelo menos a foto ficou muito bem.

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  7. Eu tenho a sorte de usufruir da "minha" esplanada à beira mar e gerir o meu silêncio, como bem me apetece, o que é de facto um luxo nos dias de hoje.

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  8. Exupéry escreveu algures"...também se é rico com as próprias misérias...depois de termos escolhido podemos contentarmo-nos com o acaso da nossa existência e podemos amá-la..."

    Gostaria de poder gozar dessa paisagem filtrando a música ou ruídos incomodos,transportando-me para um plano menos tangível ...mas fico-me pelo meu horizonte meio rural meio citadino,ouvindo o ladrar dos cães e olhando o céu pensando que certa música, que me incomoda, pode fazer alguém mais feliz.
    MJM

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  9. cuncuordo com o(a) Anónimo(a) MJM, quer dizer, com o santinho que ele(a) menciona; o probelema é qu'iele (o santinho, e eu tamem) bibeu noitros tempos, quando qria oubir música ia ond'ia estibessem a tocar, quando qria cumer ia a um restaurante ou casa de pasto, quando qria produzir frases com'áquela ia até uma espelanada oubir a natureza; em resumo num tinha d'ir a lado ninhum onde tivesse qu'aturar um "estupor qualquer a tocar pratos de gira-discos" (rssssss);
    bibo num meio rural, o silêncio impera, bou parar de ladrar c'os cães num ladr'o de manhê, e aprubeitar pra reler "O som do silêncio"; maijuma belíssima peça sr. JPB

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  10. O Jorge C. está aqui. Vão lá, que vale a pena.

    http://blogavalon.wordpress.com/

    http://manualdemauscostumes.blogs.sapo.pt/

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  11. O problema, Abel , do "santinho " é que ele fez isso tudo e mais umas botas (acho eu de que),por isso, pensa que no meio de tanta miséria e coisas que nos desagradam devem haver ao mesmo tempo algo bom, algo que nos possa agradar,e aí devemos gozá-lo,nem que seja ladrar de volta aos cães no silêncio da noite.
    Talvez seja uma terapia para parar com o xanax e outras drogas parecidas.......
    Eu escrevi isto?
    MJM

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  12. num percebi qual é afinal o problema que anuncia...
    ora, o st. éxu? esse já num pensa! debe d'estar nas nubens qu'era ond'ele gustaba d'andar;
    eu ladro (logo num tomo xanax) mas deixo a carabana passar; num ladro "de volta" (!) ós cãins, posso ser mal interpretado e lá s'ia o silêncio da noite; vc deve viver num meio mais meio citadino que meio rural...
    num sei, escrebeu? ou foi o "santinho"? tenho mais intresse nas suas opiniões quàs dele, may he rest in peace
    ps: comentário redigido ao abrigo do AO entre mim e eu

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  13. Estejam à vontade, continuem a conversar. Querem que vos traga um chá e bolinhos?

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  14. rsssssssss
    a culpa é da Anónimo MJM, chamou-me, pensei que tinha autorização do dono da esplanada!
    aceito o seu "chá", desculpe

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  15. brigadinho plo chá, foi na hora, quando eu puder eu págo-lo;
    sabe, a sua esplanada é porreira, não tem tocador de pratos de g-d, mas você tem mau feitio, exige consumo mínimo e afugenta a clientela, ora bolas;
    já fui ao avalon e ao maus costumes, que é que tem de especial? prefiro andar pelo seu sótão, aí não m'apanha nem pra me oferecer bolinhos! e tem valido a pena, não tenho o dono à perna e leio descansado;
    já lhe disse que se puder lhe pago o chá?

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