domingo, 19 de setembro de 2010

As cidades e o desejo

Bucareste, 1995 
Dali , ao cabo de seis dias e sete noites, o homem chega a Zobaida, cidade branca, bem exposta à lua, com ruas que se viram sobre si próprias como num cotovelo. Conta-se isto da sua fundação: homens de nações diferentes tiveram um sonho igual, viram uma mulher a correr de noite por uma cidade desconhecida, por trás, de cabelos compridos, e estava nua. Sonharam que a seguiam. Ora um ora outro, todos a perderam. Depois do sonho andaram à procura dessa cidade; não a descobriram mas encontraram-se uns aos outros; decidiram construir uma cidade como a do sonho. Na disposição das ruas cada um refez o percurso da sua perseguição; no ponto em que tinha perdido o rasto da fugitiva ordenou diferentemente do sonho os espaços e as paredes de modo que ela já não lhe pudesse fugir.Chegaram mais homens de outros países que haviam tido um sonho como o deles, e na cidade de Zobaida reconheciam algo das ruas do sonho, e mudavam de lugar pórticos e escadas para que se parecessem mais com o caminho da mulher perseguida e para que no ponto em que desaparecera já não tivesse saída.
Os primeiros chegados não compreendiam o que atraía esta gente a Zobaida, a esta feia cidade, a esta ratoeira.

(Italo Calvino, "As Cidades Invisíveis")


Raios e cervejas

1 comentário:

  1. desculpa-me o lugar comum. desculpa-me não dizer mais nada senão esta tonteria, mas é tudo o que me apetece dizer a este post: belo!

    (do livro mais belo de sempre, claro)

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