quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Lugares

Picos de Europa, Espanha, Setembro
Parámos na estrada. Não estava frio. Havia silêncio, porque as montanhas, as nuvens e a urze falam-nos pela voz do vento, que trazia o cheiro de ervas e água. À nossa volta estava tudo como há mil anos, ou se calhar há um milhão. Ao longe, rompe ao de leve o motor de um carro, que se aproxima, passa por nós e trava lá ao fundo, antes de se sumir na descida
Pela desenvoltura com que conduz pela estrada que mais parece uma linha dentro de um bolso, é alguém que passa por ali todos os dias. Parece-me impossível que alguém passe por ali todos os dias sem parar e ouvir as montanhas. Mas, provavelmente, eu também passo todos os dias por sítios que hão-de fascinar alguém. Vou ter mais atenção e, quando vir alguém parado a olhar, acharei que está a sentir qualquer coisa boa. Porque não? No fundo, sou um optimista.

3 comentários:

  1. Tudo como há um milhão de anos excepto a estradita, o pau vermelho e branco e o pópó mas enfim, não é difícil abstrair desses pormenores. Este blogue continua com muito bons textos e imagens, abstraindo aquela comparação entre touros e lagostas de há uns posts atrás contra a qual não consegui argumentar porque fazia muito calor.

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  2. A estradita, dado o mau estado, até podia ser uma "cañada" qualquer de transumância, não como há milhões mas, enfim, como há uns milénios. O popó e o pauzinho, (que é para sinalizar a estrada em tempos de neve, para quem não saiba)são no fundo o que justifica o post. Quanto aos touros e lagostas, está muito a tempo, JJ. Adorava ouvi-lo sobre o tema.

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  3. Isso também nos acontece com as pessoas- como estão todos os dias, deixamos de as ver- um pouco mais grave do que com os lugares.
    ~CC~

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