segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Tenha medo. Tenha muito medo.

Eu cá, quando fiz este magnífico belogue, queria fazê-lo mais para o contemplativo. Mas às vezes apetece-me ser apenas ativo*. E isso implica fazer como as pessoas crescidas da blogosfera, e meter-me no que os outros dizem. O pretexto é este curioso post de uma mulher que já me tem divertido imenso, e no qual ela explica muita coisa do carácter e da actuação masculinas através do medo.
A referência ao “medo” masculino em relação às mulheres é recorrente. É o bordão interpretativo mais comum, e mais geralmente aplicado (só acompanhado, talvez, pela "frustração." Somos uns frustrados a propósito de tudo e de nada). Quase tudo é explicado através do medo, da cor da roupa à linguagem, das atitudes ao penteado, da marca do relógio à maneira de pegar nos talheres. É a banha-da-cobra intelectual do discurso feminino mais básico (digo feminino, e não feminista. O discurso que diz mal dos homens é feminino. As feministas dizem mal é das mulheres.)
Aparentemente, ter opinião sobre a estética feminina, ou mesmo sobre qualquer coisa feminina em geral, é fruto do medo. Só um medo profundo poderá explicar que eu não goste de ver calças demasiado descaídas nas mulheres (provavelmente, é o medo de lhes ver o rabo.) E só um pavor sem nome, avassalador e paralisante, fará com que eu lhes diga isso. Porque se eu fosse um indivíduo confiante, seguro de mim e, sobretudo, corajoso, estava mas era calado e nas tintas para as figuras que elas fazem.
Eu acho que as mulheres isto? Tás é com medo, pá. Eu acho que as mulheres aquilo? Ó pra ele borradinho. Eu penso de que as mulheres aqueloutro? Ai, lindinho, vai mas é para o colinho da mamã. Cresce mas é, faz-te homem. E já agora não te esqueças de arrumar as peúgas sujas, lavar a loiça, substituir o rolo de papel higiénico e baixar o tampo da sanita depois de a usares. E livra-te de nos olhares para o rabo, as pernas ou as maminhas: ou és um cobarde inseguro, ou um porco chauvinista, um machão básico que não sabe que a beleza interior é a que mais conta. Mas livra-te também de não olhares, porque senão és assim para o esquisito.
Ser homem, hoje, é difícil. Save the Males, e que se lixem as whales. Estamos à pega por tudo e por nada, enquanto elas gozam de um estatuto parecido com o das franquias – um período de carência durante o qual nada lhes pode ser imputado, e que está para durar. Às mulheres tudo é permitido: vejam a violência deste post da Rititi – a linguagem, a atitude, aquilo que nele se diz e aquilo que ele implica. Mas a nós, homens? Nem nada que se pareça. Imaginem só o que seria um texto masculino nos mesmos termos, sobre as mulheres que cagam sentenças sobre nós. Experimentem trocar-lhe o sexo (ou o género, desculpem) e vejam o resultado devastador: o pobre idiota, cobarde, machão, porco, chauvinista, reaccionário e provavelmente impotente que o escrevesse seria crucificado, assado em fogo lento, esfolado vivo ou, em alternativa, condenado a acompanhar à sapataria, durante uma tarde inteira, uma mulher a designar pela mesa do Santo Ofício.
Este double standard é o retorno do pêndulo, e a paga por séculos de opressão. Eu sei, eu sei. Merecemos. Agora somos presos por ter cão e por não ter. Temos culpa da chuva e do bom tempo. Somos uns seres desnorteados pela súbita revelação da superioridade física e moral do género que subvalorizámos, dominámos e escravizámos durante séculos. Vivemos acagaçados pela descoberta da liberdade feminina, da sua autodeterminação emocional, social, profissional e sexual. Vemos em cada par de mamas o aconchego materno, e também um temível Everest a conquistar simplesmente porque está lá, mas que nos matará na tentativa - e em cada vagina uma máquina trituradora que nos castrará para sempre.
Finalmente revelámo-nos como somos: uns seres toscos, grotescos e inacabados, temerosos, carentes de reconhecimento, só nos safando os que acabam por ser escolhidos por serem dignos de acompanhá-las – às Mulheres, Mães, Seres de luz que sobre nós derramam a graça da sua existência, e a bondade da sua condescendente preferência.
A esses é confiada a tarefa de serem os verdadeiros Homens – definição que cabe exclusivamente às mulheres, evidentemente, não sendo a inversa de todo verdadeira porque a nós nos falta em discernimento o que a elas lhes sobra em intuição, para não falar de legitimidade moral. A todos os outros, cabe a tarefa de mudar umas lâmpadas e estar calados, porque nada é de admitir a um género cuja principal ocupação e comprazimento espiritual é beber cerveja, ver futebol, apreciar o cu às gajas, dar traques,  coçar a genitália e mijar no tampo das sanitas. E que, além disso, ressona.
Sejamos sérios, Rititi. Medo? Todos temos medo – os homens das mulheres, as mulheres dos homens. Medo uns dos outros, e cada um de si próprio. Medo da sombra, medo do Sol, da Lua e das tempestades, medo de falhar, medo de morrer, até medo de viver. Temos medo de ter medo. E quem sabe se esse argumento recorrente sobre o medo masculino a propósito de tudo e nada, esse repescar de clichés psicanalíticos, ou psico sejam lá o que forem, esse discurso de “mulherzinha,” esse feminismo de almanaque que não esperava de si (mas não me admira nos comentários) esconda também (ou não) o medo que cada mulher sente por finalmente se achar dona do seu destino, livre, por sua conta e risco, num mundo de códigos e aparências que precisa de dominar a todo o custo para sobreviver. No fundo, é uma espécie de machismo ao contrário, um policiamento larvar dos comportamentos, uma barragem de artilharia dialética que aplaina o terreno em mais uma simples batalha da guerra dos sexos.
Seja isso ou não, estou-me um bocado nas tintas para tal guerra. Eu quero é gajas, e boas. Venham elas. E é verdade que tenho medo de uma coisa: que este texto faça com que logo não tenha sexo. Ou, pior ainda, não tenha jantar.

*O acordo ortográfico que fez cair os cc permite-me este espirituoso e inocente jeu de mots. Mas eu sou um porco, só uso o acordo quando me dá jeito.

11 comentários:

  1. Os exageros normalmente dão em incompreensão de argumentos, mas não é de todo descabido o que essa mulher levanta no seu "post". Há ou não sentenças sociais e até judiciais que determinam como causa de exclusão de ilicitude, ou pelo menos de atenuação de pena, para crimes de violação, o facto de as mulheres vítimas do crime usarem mini-saia? Como se tivessem sido elas a provocar, como se o pobre do violador não pudesse ter resistido à prática do crime, tendo até sido impelido a praticá-lo! Só faltava dizer que foi em legítima defesa!! Ora, eu nunca ouvi comentários de atentado ao pudor em relação, por exemplo, a homens que usam calças tão descaídas, tão descaídas que têm que abrir as pernas para conseguir andar sem que as calças lhes naveguem perna abaixo. Pode-se dizer que não se gosta, mas ninguém dirá que são uns provocadores. E estou a lembrar-me de uma decisão, há tempos, julgo que numa loja do cidadão do sul, onde se determinou que há regras de vestir decentemente, as quais eram viradas na grande maioria para as mulheres (proibição de mini-saia e decotes exagerados). E julgo que essa regra também já foi criada numa universidade. Afinal, elas não têm medo de se mostrar, mas há quem tenha "medo" de as ver. E, mesmo em jeito de conclusão, as feministas não dizem mal das mulheres, mas antes da sociedade que gera esterótipos e discriminações que elas procuram combater... e bem. Ufa... já estou apta para criar um blogue, ou ainda é preciso escrever mais umas páginas??? :)
    Lisaa

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  2. JPB ficou mesmo danado com esse "post"
    Digo isto, pela maneira como retratou a dita "imcompreensão" que a maioria das mulheres sentem dos homens e o "conformismo" destes ,pagando só para não serem chateados.
    É a tal guerra dos sexos,sempe existiu e existirá.
    Sempre houve aulas de história,matemática,línguas
    etc,mas não houve,que eu saiba, aulas para nos mostrar e entender as reações dos homens e das mulheres,porque reagem desta ou daquela maneira.
    Tudo se aprende por hábito,transmitido de pais para filhos,aprendendo com amigos,vendo e adaptando-se o melhor que podem.
    As tais aulas de sexologia ainda estão para vir!
    Não somos nós mulheres,com a nossa dedicação,que educamos os nossos filhos?
    Damos-lhe mimos ,transmitimos os nossos valores éticos e morais,preparamo-los para serem maridos de outras mulheres,sacrificamo-nos por eles.
    Será que educamos as nossas filhas da mesma maneira? Será que como mãe gostamos de ver a nora não fazer ao filho aquilo que a mãe fazia?
    Será que gostam de ver a filha tratada da mesma maneira que o foram?
    Implicitamente há sempre uma aprendizagem por osmose.
    Nem os homens são tão simples nem as mulheres tão complicadas!
    Quando cada homem e mulher conseguir perceber isto,não ser egoista ao ponto de achar que tem 100% razãoe,aprender um com o outro em estreita cooperação,tudo será melhor!
    Sonhadora!!!
    Será por estas e por outras incompreensões que cada vez há mais homosexuais?
    MJM

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  3. Olhamesta... Eu sabia que estavas aí a ouvir, minha desgraçada. Esta era mesmo daquelas que tu gostas. Preciso de partir a loiça para apareceres, é? Hádes ter muitos amigos.

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  4. Não sei se é do conhecimento de voces o caso de uma universitária(UNIBAN) que foi cercada e ameaçada por alunos, tantos masculinos e femininos por conta de seus vestidos "inapropriados" para frequentar o banco de aula, mesmo depois do fato veiculado a exaustão na mídia, a universidade ainda a expulsou por conduta imprópria. Evidentemente depois da pressão e do repúdio da opinião pública sua decisão foi reconsiderada.
    Isso tudo no país do fio-dental e do carnaval.
    Encaixa-se nos dois casos, ambos feminino e masculino. Tenhamos medo, muito medo.

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  5. gostei, embora, espero bem, vcs sejam capaz de mais do que aquele naco que mete medo ao susto (o dos traques, coçar a genitália, etc).

    e porque sei que são, gostei.

    qt ao resto, há anos que digo que 'isto' ficuou muito difícil para vcs, sim. preso por ter cão e por não ter, desorientação a partir daí.

    olhe, a minha solidariedade. e é como diz: fizeram-nos a vida negra durante milénios amen. agora aguentem-se um bocadinho, pode ser? :-)

    um abraço.

    (sempre ficou sem jantar e sem sexo?)

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  6. Claro que não fiquei, sem-se-ver. Eu sou lindo e consigo sempre dar a volta à coisa.
    E sim, claro, a gente aguenta um bocadinho. É justo. Mas não julguem que não percebemos tudo. Temos é uma alma enorme e uma pachorra de santos.

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  7. ah, então aprenderam mais connosco do que eu julgaria!

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  8. Evidentemente. Somos tudo menos parvos.

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  9. eu tambem acho que épá nós os gajos e as gajas e os ambos, nos debíamos de dar todos bem uns co's outros e coiso, as gajas debiam d'andar como quisesse se quiser estragar a surpresa é lá co elas; e os gajos co rego do cu à mostra é la co eles mas ó menos se se depilasse ou usasse um burqu, clho! seria pedir munto?

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