Li-o quando eu era mais novo e mais impressionável, e deixou-me uma marca especial. O improvável Haiti entrou assim na minha vida, como na de muitas pessoas. Aqui conheci "Papa Doc," o seu regime canibal e os seus tontons macoute - a expressão do mal absoluto. E conheci o cínico director de hotel que vê tudo à sua volta afundar-se na barbárie, e acha que nada tem a ver com aquilo. Ele mostrou-me como a indiferença é mais devastadora do que o ódio. Quando me rodeia a tentação de prolongar o distanciamento sobre as coisas, lembro-me às vezes do sr. Brown. Sim, há alturas em que não há hipótese: mais tarde ou mais cedo temos que tomar partido. De Homero a "Avatar" (olha que comparação eu fui arranjar agora, desculpem lá), esta questão central da nossa vida, nas suas mais variadas formas, vem sempre ao de cima. Mais vale arrependermo-nos de ter feito alguma coisa do que de não termos feito nada.
Nestas horas em que o horror absoluto volta a pairar sobre o Haiti, não há partidos a tomar, mas a indiferença não é possível, embora pouco possamos fazer de imediato. Há países marcados pela tragédia. Se eu achasse que dava resultado, rezava agora por ele. Mas onde estava Deus antes disto? E do tsunami de 2006? E de Auschwitz? Onde está agora?