sexta-feira, 2 de abril de 2010

Olá e até já

Comunico aos meus leitores, amigos e credores que vou a Espanha. Vou lá pastar durante uns dias. Não digo, como Garrett, que de tudo o que vir e ouvir se há-de fazer crónica, porque ele ia a Santarém e eu já me conheço. As viagens, grandes ou pequenas, são uma coisa pessoal, interior. Partilhamo-las se quisermos, com quem quisermos, e da forma que quisermos. Mas, sobretudo, dependem de muitos imponderáveis. Podem resumir-se a uma hora que vale por tudo o resto, a uma visão, a um sabor, um perfume. Podem ser uma sucessão de chatices. Podem não dar vontade de contar a ninguém, e eu reservo-me desde já esse direito.
Gosto de Espanha. Já aqui disse algures que nenhum português pode perceber o que é sem a conhecer minimamente. Espanha é Portugal mais extremado. Tem as mesmas planícies, mas maiores, mais áridas, mais desoladas; as mesmas montanhas, mas mais altas, mais escarpadas. Tem mais frios, e mais calores. Mais cóleras e mais perdões. Tem como ninguém o gosto da vida e da festa, e o sentido da morte e da tragédia – é capaz de viver por um sonho, e de morrer por um absurdo.

Conhecê-la é observar-nos de um ponto de vista familiar. Eu gosto de nos ver, de nos olhar lá do meio da Meseta. Nem sempre isso me alegra – muitas vezes deprime-me. Mas depois penso que no fundo todos somos um pouco espanhóis – não de passaporte, muito obrigado, mas de destino, de visão do mundo e da vida. Aquelas paisagens também são minhas, e aquilo que eles são também sou eu. E gosto de ser.

Adiós.