terça-feira, 13 de julho de 2010

Lembrei-me agora, que está na altura das férias

Muros

Não é o Mediterrâneo. Está bem longe dele. Mas a brancura da areia e a quentura da água lembram paraísos para lá do horizonte tropical. É das melhores praias onde já estive. Ide ver, vós que nesta altura vos atropelais por um lugar ao sul, ao sol e ao sal: nesta praia tomei eu banhos que pareciam no Algarve,  com o silêncio e o espaço dos lugares de sonho. 
Esta é a última das Rias Baixas para quem vem pelo caminho português, a de Muros-Noia. Para além dela é o fim do mundo - o Fisterra, e a Costa da Morte. Não tem luxos nem "noite." Tem vilas e aldeias em enseadas que não se sabe se pertencem à terra, ao mar ou aos bosques.

Muxía

Tem o mar que se adentra pela terra e só assim amansa, tem sol, que volta e meia é vencido por legiões de nuvens - mas, como dizem os galegos, o verde tem um preço. Tem "snarks-bares" de ementas alucinantes (recomendo os various fishs wiht patatoes, são bem melhores que a ortografia). Tem mexilhões, queimadas, mistérios e histórias de meigas com os seus feitiços.

Cambados

Tem o granito das velhas terras, das arcadas onde soam gaitas de foles. Tem brumas, e uma língua irresistível. Queres un café curtiño, non? Os portugueses piden sempre café curtiño.  Pois pedimos - mas o nosso é muito melhor do que esta porcaria. Tem carvalhos, pinheiros e vinhas de albariño e ribeiro. Tem os caminhos de Santiago. Tem igrejas sobre as rochas olhando as lonjuras do Atlântico, e sirenes de faróis mugindo aflitas no nevoeiro, e almas de mil náufragos que se agarram às escarpas. Tem flores nas janelas, tem muiñeiras, e tem Rosalía de Castro:

Costa da Morte

Santiago de Compostela



- Cantan os galos pra o dia;
érguete, meu ben, e vaite.
- Cómo me hei de ir, queridiña,
cómo me hei de ir e deixarte?

 - Meiguiño, meiguiño meigo,
meigo que me namoraste,
vaite de onda mim, meiguiño,
antes que o sol se levante.

 - Iréi, mais dame un biquiño
antes que de ti me aparte,
que eses labiños de rosa
inda non sei como saben.

 - Con mil amores cho dera;
mais teño que confesarme,
e moita vergonza fora
ter un pecado tan grande.

- Pois confésate, Marica,
que cando casar nos casen,
non che han de valer, meniña,
ni confesores ni frades.
Adiós, cariña de rosa!

- Raparigo, Dios te garde!

E agora oiçam a Uxía neste canto que vem do fundo dos tempos, que cheira a ervas, a lenha queimada, a estrume, a mar, a flores e a terra molhada da chuva. E se não se arrepiarem como eu, não merecem viver.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Ita missa est



Aqui não se vê bem, mas o que este homem transporta aos ombros é uma bandeira espanhola. Eram umas duas da tarde de ontem. Ali onde Lisboa mergulha num Tejo cheio de nada, fazia horas para um momento de vida ou morte. Passeava pela Baixa, claramente suspenso, sem saber muito bem o que fazer do tempo que faltava.
Tive uma certa inveja dele, como neste momento tenho dos espanhóis. Foi bonita a festa, pá. Confesso que torci por eles - afinal de contas, se formos a ver, também estão em crise e têm complexos em relação à Europa: um jornal de Madrid celebrava o golo de Carles Puyol contra a Alemanha, em que o catalão voou sobre os centrais para atirar um míssil de cabeça, como uma vitória dos bajitos españoles sobre as torres germânicas. O grito que Andrés Iniesta arrancou ontem da garganta depois do pontapé que matou a Holanda na arena de Joanesburgo estava atravessado há muito, e não só por causa dos falhanços no futebol. Há na euforia espanhola um sentimento de desforra que nos diz muito a nós, portuguesitos, mas que estranhamos neles. Afinal, a Espanha é a Espanha. Toda a gente sabe onde é, e nem quase três séculos de decadência apagam o facto de já ter reinado sobre meio mundo, de Nápoles a Manila, de Bruges à Califórnia. Se eles soubessem o que é ser mesmo pequenino, percebiam a sorte que têm.

Mas torci por eles sobretudo porque jogam bem como o raio. Essa é que é essa. E pronto. Ita missa est. Agora só deverei voltar a interessar-me por coisas futebolísticas daqui a dois anos, quando for o Europeu - com um eventual assomo por alturas da final da Taça dos Campeões. Só me entusiasmam estas grandes celebrações, onde se jogam grandes coisas por grandes equipas. Até lá, tenho mais coisas que me ralem do que o Sporting-Paços de Ferreira.
Para a Holanda, país que nunca me entusiasmou por aí além, uma mão estendida. Ontem caíram que nem leões, e tinham tanta fome de ganhar aquilo como os espanhóis.
Não é coincidência que haja holandeses  neste vídeo, o primeiro que aqui ponho neste excelente belogue. Para mim é uma grande música, tocada e cantada de forma arrepiante. Já a ouvi vezes sem conta. Não conhecia estes Blöf.  Cristina Branco, lindíssima, é arrebatadora. O grunho que canta com ela é comovente. Os dois mostram como a  música e a emoção conseguem harmonizar duas línguas de trapos. Vejam como eles conversam e se entendem, sem perceberem uma palavra do que o outro diz.

domingo, 11 de julho de 2010

Esta minha Lisboa

Fica à beira do caminho do eléctrico 28, que vai dos Prazeres à Graça. Mais perto desta que daqueles, obviamente.