quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Rotundas do meu país

Quo te carmina dicat? Quem dignamente vos cantará? Vós sois o espelho circular da Pátria, a sua mais redonda afirmação de iniciativa. Em vós se concentram toda esperança, todo o gosto, toda a paixão organizativa, toda a perspectiva de futuro de que é capaz a alma portuguesa. Muitas de vós não são precisas para nada, abrem-se para coisa nenhuma, só servem para nos entontecer - mas estão lá porque nunca se sabe, e um dia talvez sejam precisas. Que maior hino à confiança nas gerações vindouras poderíamos imaginar?
O círculo é a forma perfeita. Como lhe resistir? Como evitar fazer de muitas de vós o mostruário da nossa sensibilidade colectiva, o altar desse magnífico supérfluo que é a Arte? Como não fazer de vós testemunho da vontade de deixar marcas na terra e na memória dos homens que assalta cada autarca, cada artista ignoto, cada um de nós, afinal?

Um dia no futuro distante, quando arqueólogos rasparem esta terra para ver com que se entretinham os aborígenes, encontrarão mil Stonehenges misteriosos - como este, feito de um meio-sol partido em quartos que revelam interiores de significados recônditos, talvez figuras votivas, objectos mágicos, invocações a deuses da floresta e das águas, rodeando um monólito de hieroglifos.
Esta fica na estrada que vai de Ovar para Torreira e S. Jacinto, junto ao cruzamento para Estarreja e Murtosa. Mas há muitos outros, de que darei conta, postando-os aqui à medida que os vá recolhendo. É um serviço público que me decidi a prestar, inaugurando aqui esta secção irregular. O país merece-o, os ignorados artistas que assim colorem o meu país merecem-no. Todos o merecemos.