tag:blogger.com,1999:blog-5766362219042672212024-02-19T01:48:43.354+00:00JanelasA terra é azul como uma laranjaJPBhttp://www.blogger.com/profile/17738339754747276838noreply@blogger.comBlogger173125tag:blogger.com,1999:blog-576636221904267221.post-36355703008717352882011-01-24T16:14:00.002+00:002011-01-24T16:41:50.531+00:00Intermezzo<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgZ0SUPT5fibf-cq7ZdtMz2YmNRclg9vdl88JUQgpJYl5MkrqEiUit4bT9qyqI2s5F1bBcibirrdo8bGQwRsWIqWK_ljwOdZ036kR8rQQH4OtbC9oZHN_p-Rs96OTv-R88Dss45KA6vED_I/s1600/DSC00173.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="417" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgZ0SUPT5fibf-cq7ZdtMz2YmNRclg9vdl88JUQgpJYl5MkrqEiUit4bT9qyqI2s5F1bBcibirrdo8bGQwRsWIqWK_ljwOdZ036kR8rQQH4OtbC9oZHN_p-Rs96OTv-R88Dss45KA6vED_I/s640/DSC00173.JPG" width="640" /></a></div><div style="text-align: center;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> <b>Região de Ourique</b></span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">A toponímia portuguesa tem uma poética que não raro embala o caminhante e lhe indica caminhos verbalizando a realidade. Quer dizer: o país pode ir para Sarilhos Grandes ou para a Buraca, mas às vezes é melhor ser mais explícito. E desde que seja em grande, não interessa onde seja. </span></div><div style="text-align: center;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">///</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Eu gostava da ideia de ter um poeta como presidente da República. A relevância do cargo é semelhante à da poesia - é uma necessidade supérflua. Se calhar podíamos viver sem ambos, mas não seria lá grande vida. Preferia ter um poeta a ter um contabilista: este calhava mais para primeiro-ministro, que é uma coisa mais terra-a-terra. Um presidente é, como eu já disse </span><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">aqui hà atrasado, uma inutilidade-em-chefe. Por isso não precisa de saber fazer contas, era preferível que soubesse fazer versos.</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Infelizmente, o poeta em cena não é lá grande inspiração para mim, pese o seu estro - as trovas do vento que passa, o canto e as armas são, dentro do género menor, coisas que já me tocaram e tocam ainda. Mas nunca como agora é evidente que uma coisa são as obras, outra, muito diferente, o seu autor. Este devia afastar-se daquelas assim que as termina, e declarar que já não tem nada a ver com elas. Uma vez produzidas, as obras de arte pertencem mais a todos nós do que a quem as fez, porque os autores são demasiado humanos para poderem ombrear com o que o seu espírito produziu. O Manuel Alegre que escreveu a trova do vento que passa não é este resmungão antipático e sobranceiro.</span></div><div style="text-align: center;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">///</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Tristemente, quem ganhou foi o contabilista. É talvez sinal dos tempos, que estão mais para as formigas do que para as cigarras. Seja pelos nossos pecados.</span></div><div style="text-align: center;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">///</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Vendo bem: os poetas não devem ser presidentes. Os presidentes, esses sim, é que devem ser poetas. Não é a arte que deve gerar poder, mas é o poder que pode, e deve, gerar arte. </span></div><div style="text-align: center;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">///</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">"Como todos os outros tunisinos, também eu vivi sob o medo," disse Mohammed Gannouchi. A criatura é primeiro-ministro há doze anos, governou o regime do medo, e ainda não saíu. Há-de sair, por mais que tente virar a casaca e cavalgar a revolução. Mas, por mim, já ganhou o Óscar da lata e da sem-vergonha. Pelos vistos, o primeiro-ministro da Tunísia era uma vítima, que vivia num temor constante de... de quê? Melhor que isto só José Sócrates dizer, um dia, que também ele estava contra o Governo. Nem sequer me admirava muito. Se a chefia do Estado se disputa entre um contabilista e um poeta, a do Governo está nas mãos de um vendedor de carros usados (ou de computadores baratos), que me diz o que acha que eu gostaria de ouvir. Cada um à sua maneira, na Tunísia como em Portugal, todos são sobreviventes.</span></div><div style="text-align: center;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">///</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;">Mas os tempos vão estranhos, gente. Li agora que o Japão vai enviar tropas para ajudar a matar milhares de galináceos no sul do país, a fim de evitar a alastramento da gripe aviária. Quando um país nobre e milenar usa as suas forças militares para matar frangos e galinhas, eu acho que precisamos meditar profundamente no mundo que estamos a construir. É o que eu vou fazer. Até logo.</span></div>JPBhttp://www.blogger.com/profile/17738339754747276838noreply@blogger.com34tag:blogger.com,1999:blog-576636221904267221.post-50806005194055898912011-01-16T22:29:00.001+00:002011-01-17T14:43:53.488+00:00Ponto de situação<div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Hei-de ler, Jorge. Hei-de ler, como me recomendas no teu comentário ao post anterior, "Deixem Passar o Homem Invisível." Eu sou muito de seguir conselhos, sobretudo porque são de graça. Mas agora ia falar de outra coisa quando esse título se me atravessou como um resumo da mesma: um punhado de homens invisíveis lutando por um vago cargo num vago país a afundar-se. Um espectáculo patético. </span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Já nem falo da criatura que aparece a oferecer submarinos de brinquedo, a bater às portas das casas dos outros, e palhaçadas do género, até porque uma campanha eleitoral é geralmente uma palhaçada para adultos, uma sucessão de infantilidades para pessoas crescidas. Falo de um médico estimável que a estas horas devia estar a fazer o que sabe e faz bem, no Sudão ou nas serras do Rio de Janeiro, em vez de andar por aí a dizer vacuidades, ou de outro médico que pouco risca e nada de novo traz. Falo de um poeta sem norte, do funcionário competente de um partido de arqueologia política, e de um professor de economia com tanto jeito para falar às pessoas como eu tenho para dançar o Lago dos Cisnes.</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Ver gente supostamente séria a beijocar peixeiras, vendedeiras de fruta e demais cidadãos anónimos que normalmente nenhum deles beijaria sem um estertor deprime-me. Assistir aos seus protestos de amor pelo povo assim beijado arrepia-me. Mas uma campanha eleitoral é assim - e como dizia Vitor Cunha Rego, as coisas são o que são. E esta não é mais do que isso. A inanidade do debate, a ausência de ideias, o desinteresse dos discursos coadunam-se perfeitamente com a irrelevância do cargo para que concorrem. </span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Em Portugal, o Presidente é uma espécie de pai reformado ou avô rabugento, que todos fingem ouvir e venerar mas a quem, verdadeiramente, ninguém liga. Cabe-lhe pairar de modo sonolento sobre a vida política, tendo por única arma os códigos da bomba atómica constitucional - a dissolução do Parlamento, uma espécie de fusível para situações agudas. Mesmo o poder de veto pode ser anulado pela insistência do Governo. Se não for um Mário Soares, dando à representação do Estado uns fogachos de esplendor monárquico, não é mais do que o supremo funcionário público, uma inutilidade-em-chefe.</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Podia ao menos ser um exemplo, uma influência, uma referência moral. Não sei como o poderá ser alguém que normalmente é eleito por metade dos eleitores, e à custa de batalhas políticas em que se debatem acções de bancos, cheques, artimanhas várias, questões de lana-caprina e, de modo geral, um processo em que vale tudo menos tirar olhos, incluindo prometer que se vão fazer coisas que toda a gente sabe que não se vão fazer, desde logo porque a Constituição não deixa.</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">São vários homens invisíveis a correr para o cargo de homem invisível, o mais alto de um país finalmente reduzido à mendicidade. Mais desinteressante que esta campanha só o outro assunto de que mais se fala, a choradeira nacional e as sentidas homenagens póstumas a um homem que fez vida a maldizer, a coscuvilhar e a insinuar sobre a vida dos outros, e que nem escrever sabia. Paz à sua alma. Paz na terra para nós todos.</span></div>JPBhttp://www.blogger.com/profile/17738339754747276838noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-576636221904267221.post-48004405309671120002011-01-13T02:18:00.006+00:002011-01-13T13:59:00.086+00:00Os meus livros<div style="margin: 0px; text-align: justify;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiJ3Ej-aRf7tV29V-08BaJYOqLZN7gDfnc6SIJzj7ISt4w52Z5J7rNBcdLKwRykF2vg4BHY_WeqGjXSdLEOaymvXJV0ZtImv2u2hOm3LosxfqmMyT8d45IxCf2pHGUhmJwqvIDmI93DZW0D/s1600/DSC_0001-1.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="252" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiJ3Ej-aRf7tV29V-08BaJYOqLZN7gDfnc6SIJzj7ISt4w52Z5J7rNBcdLKwRykF2vg4BHY_WeqGjXSdLEOaymvXJV0ZtImv2u2hOm3LosxfqmMyT8d45IxCf2pHGUhmJwqvIDmI93DZW0D/s400/DSC_0001-1.JPG" width="400" /></a></div><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Eu acho que na chamada literatura portuguesa há dois grandes grupos: um deles é o Eça. O outro, é o resto. Enfim, talvez haja ainda o Camilo, pronto. Isto é o que eu acho, e como este blogue é meu, o que eu acho é que interessa. </span></div><div style="margin: 0px; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Isto para dizer que acabei de ler <i>Os Maias. </i>Olha que grande coisa, dirão os milhares de pessoas que lerem isto. Pois é, mas fiquem sabendo que o li de cabo a rabo, e a última vez que tal fizera foi há uns vinte e tal anos. E assim, um livro que faz parte incontornável da minha vida (e de muitos outros, eu sei), foi para mim, durante os últimos dias, uma redescoberta fantástica. Assim como quem, voltando atrás no tempo, encontra, fresco e quase na mesma, a cheirar a sabonete, aquele grande amor da juventude, e assim revive felicidades que se criam passadas.</span></div><div style="margin: 0px; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Quem não gostaria de passar por uma coisa assim? Pois bem, mordam-se de inveja: eu passei. Durante quinze dias (não foram menos porque muitas vezes eu quis prolongar o prazer, deixando previdentemente para amanhã o que podia ler hoje) eu voltei a viver aquela história, naqueles lugares, e com aquela minha gente - com aquelas personagens sem as quais eu hoje não seria o mesmo - seja lá o que for.</span></div><div style="margin: 0px; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Vinte e tal anos durante os quais houve apenas visitas episódicas, releituras de excertos, folheanços aqui e ali, são tempo bastante para que um regresso integral seja uma nova surpresa. Maravilhado, vi-me interessadíssimo num enredo que sabia perfeiramente qual era - e acho que isto é o maior elogio que se pode fazer à arte suprema de um narrador. E ri-me alto, sozinho - na sala, na casa de banho, na pastelaria - com as queijadas esquecidas do Crujes, as chiquezas do Dâmasozinho aperreado por gozarem com a sua <i>toilette </i>para as corridas ("Veja lá não se lhe creste a pele, ó catitinha"), e com o clímax da história, quando BIP BIP BIP SPOILER ALERT BIP BIP BIP Carlos da Maia toma finalmente conhecimento de que a mulher que ama e com quem dorme é nada menos que sua irmã BIP BIP END OF SPOILER BIP BIP, pede a João da Ega que lhe conte tudo, e o desenrolar desta cena de tragédia grega, de um dramatismo sublime e quase insuportável, é constantemente interrompido pelo pobre Vilaça, que pede muita desculpa mas não sabe onde deixou o chapéu.</span></div><div style="margin: 0px; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Antes tinha lido <i>A Cidade e as Serras,</i> também de fio a pavio - embora seja desigual, já que a parte verdadeiramente queirosiana é a primeira, passada em Paris. O resto é uma amável deriva ecológica e sentimental. Agora estou a avançar por <i>O Primo Basílio.</i> E acho que vou por aí fora. Reencontrar tudo isto, reviver em parte a graça inigualável de ler Eça, quase como se fosse pela primeira vez, é algo que me estou a oferecer a mim próprio como um presente da vida. Faça também isso. Você merece. E vai ver que gosta muito.</span></div>JPBhttp://www.blogger.com/profile/17738339754747276838noreply@blogger.com8tag:blogger.com,1999:blog-576636221904267221.post-23238110748639755972010-12-31T10:34:00.002+00:002011-01-01T12:35:02.744+00:00Feliz Ano Novo<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgWanq39Gw43NcgVgQeoqi2kqYpGYv1W30X9rbv75bkRVLjefjYiFEXT2330auwZbUeksrj7A4qggUsqsQOdADmxPAiFBi8mBH3E9q7wXIne65R02OOEskBzK5QQs_QY33Gsge9K3Tnbn58/s1600/DSC_0010.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span></a></div><div style="text-align: center;"><br />
</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgPWuVv1BuVgWWWEKZ4nU6fD6XCWQFWqkAhYVJLs-_aPfeo9xPi_37iLfK7itvCUQ9CQ8wOM1Brs_lOVOsBUkYHld38BBu8ML2XwZzpQoWUs2a_BSKfhZGw1ZLkML3mt-hLdkCTiek7XX-d/s1600/DSC_0009.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><img border="0" height="265" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgPWuVv1BuVgWWWEKZ4nU6fD6XCWQFWqkAhYVJLs-_aPfeo9xPi_37iLfK7itvCUQ9CQ8wOM1Brs_lOVOsBUkYHld38BBu8ML2XwZzpQoWUs2a_BSKfhZGw1ZLkML3mt-hLdkCTiek7XX-d/s400/DSC_0009.JPG" width="400" /></span></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Palácio da Ajuda: fachada principal</span></div><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjK1JUgY6lZnevew3jv61v0-VnE6SkxjenetLlNjhS2EMxHKSr1yA1TTdInYTdjPa24I0C1VDgIQSoxXDfuQrRqEr-4xOmpUHL4Mpfz_Rj4VhF6tKnH6yQ2nn5PKqnr_D9o_hBR-_Zhp6M2/s1600/DSC_0013.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><img border="0" height="265" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjK1JUgY6lZnevew3jv61v0-VnE6SkxjenetLlNjhS2EMxHKSr1yA1TTdInYTdjPa24I0C1VDgIQSoxXDfuQrRqEr-4xOmpUHL4Mpfz_Rj4VhF6tKnH6yQ2nn5PKqnr_D9o_hBR-_Zhp6M2/s400/DSC_0013.JPG" width="400" /></span></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Palácio da Ajuda: traseiras</span></div><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><i><br />
</i></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><i>- E aqui tens tu, Lisboa.</i></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><i>- Enfim - exclamou o Ega - se não aparecerem mulheres, importam-se, que é em Portugal para tudo recurso natural. Aqui importa-se tudo. Leis, ideias, filosofias, teorias, assuntos, estéticas, ciências, estilo, indústrias, modas, maneiras, pilhérias, tudo nos vem em caixotes, pelo paquete. A civilização custa-nos caríssima, com os direitos da Alfândega: e é em segunda mão, não foi feita para nós, fica-nos curta nas mangas... Nós julgamo-nos civilizados como os negros de São Tomé se supõem cavalheiros, se supõem mesmo brancos, por usarem com a tanga uma casaca velha do patrão.... Isto é uma choldra torpe. Onde pus eu a charuteira?</i></span><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><i><br />
</i></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><i><span class="Apple-style-span" style="font-style: normal;">Eça de Queirós, "Os Maias"</span></i></span>JPBhttp://www.blogger.com/profile/17738339754747276838noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-576636221904267221.post-54368785737347703632010-12-24T11:05:00.000+00:002010-12-24T11:05:12.226+00:00Espírito da época<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhOfewpcPjdbneUrl_Xk7nef20BboSEYjPaRn1HjQcas5ssIRJ44vYNSAQh4OcuYZxM_jWDzv5_EmkwBsidQAzT-IBVaRpWqkYCdRRs6rdehtOwmFn5b97ps0ztMFWocbt_zMHktVy5O41j/s1600/digitalizar0007.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="424" n4="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhOfewpcPjdbneUrl_Xk7nef20BboSEYjPaRn1HjQcas5ssIRJ44vYNSAQh4OcuYZxM_jWDzv5_EmkwBsidQAzT-IBVaRpWqkYCdRRs6rdehtOwmFn5b97ps0ztMFWocbt_zMHktVy5O41j/s640/digitalizar0007.jpg" width="640" /></a></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Para que este estabelecimento não passe o Natal com uma foto de peixes despedaçados a encabeçá-lo, deixo aqui uma árvore. Também é trazida pela memória acordada pela revisão de fotos guardadas numa gaveta, e foi tirada perto do local da anterior.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Esta árvore fantástica não é um pinheiro natalício, mas também tem algo a ver com a época. Dá pelo nome técnico de <em>Boswellia sacra,</em> cresce nos <em>wadis</em>, leitos secos dos rios do sul da Arábia e do Corno de África, alimentando-se da vaga humidade deixada no solo pelas torrentes episódicas, e é da sua resina que se faz o incenso que, com o ouro e a mirra, os Reis magos levaram ao Deus menino.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;">O incenso valia, na Antiguidade, o seu peso em ouro. Era objecto de um comércio chorudo, cujas rotas se comparavam à da seda. Provinha sobretudo destas regiões, e era levado em longas caravanas através de algumas das regiões mais inóspitas do planeta até aos portos mediterrânicos, para alimentar a América da altura, que era o Império Romano. Nele se consumia avidamente o incenso às toneladas - para os templos, para a medicina, para os cosméticos. Era tão precioso como hoje é o petróleo.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;">Estas coisas são como as cerejas, e por isso um dia destes vou aqui contar como fui ver a Cidade Perdida engolida pelo deserto, de onde há três mil anos partiam as caravanas e se calhar os três Magos. Há tempo: ainda agora eles vão a caminho. E eu também. Feliz Natal.</span></div>JPBhttp://www.blogger.com/profile/17738339754747276838noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-576636221904267221.post-5670830343590612032010-12-22T01:43:00.004+00:002010-12-22T10:04:28.453+00:00Momento evocativo e demagógico<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiuVe8rKFsmecBTPyc-TpcKS_Zs6WLQk8z-OmJXr28MdOKqxzzZiSVAP_iM45DfkJ_87wUh7cMD26HASLFA_HNAaPVYd7f9JEdC0sfb_OJUzvzRGUXsPmXy61GNE9ukbUE5ILnaQP3VBES9/s1600/image0-2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="422" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiuVe8rKFsmecBTPyc-TpcKS_Zs6WLQk8z-OmJXr28MdOKqxzzZiSVAP_iM45DfkJ_87wUh7cMD26HASLFA_HNAaPVYd7f9JEdC0sfb_OJUzvzRGUXsPmXy61GNE9ukbUE5ILnaQP3VBES9/s640/image0-2.jpg" width="640" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Interrompo o vosso sossego porque estava aqui a ver umas fotos e calhei nesta, guardada com muitas outras que tirei há uns anos em Omã, na costa arábica: algures no sul do país, restos de tubarões pescados e feitos em pedaços. Depois são secos e comidos, presumo que com razoável delícia. Não sou eu, filho de um povo que faz o mesmo ao bacalhau, que vou estranhar.</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Dizem que o tubarão é uma espécie perigosa, um assassino dos mares. Todos os anos, deve haver meia dúzia de ataques de tubarões a seres humanos. Mas todos os anos são mortos milhares de tubarões. Vendo bem, qual é a espécie mais perigosa?</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Bom, isto agora não interessa nada. Até já, então. Boas Festas.</span></div>JPBhttp://www.blogger.com/profile/17738339754747276838noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-576636221904267221.post-24852196251069963422010-12-19T00:02:00.000+00:002010-12-19T00:02:33.403+00:00Resumo do dia de hoje<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEggosBmhEmXNCAWxY8vnXcYetXjngkQNOICspaaEM42w2A8HoO3zMzPpoTp18h10WhhPYNXEV0_51XnAKCbbgF04OUuOy_L692wPgCb9K4Ai3v_IKyVPWpQ2JtIyYD9cWxrN8_Kan1jA2FJ/s1600/DSC_0003.JPG" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="272" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEggosBmhEmXNCAWxY8vnXcYetXjngkQNOICspaaEM42w2A8HoO3zMzPpoTp18h10WhhPYNXEV0_51XnAKCbbgF04OUuOy_L692wPgCb9K4Ai3v_IKyVPWpQ2JtIyYD9cWxrN8_Kan1jA2FJ/s640/DSC_0003.JPG" width="640" /></a></div>JPBhttp://www.blogger.com/profile/17738339754747276838noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-576636221904267221.post-81796210091084813972010-12-18T19:14:00.001+00:002010-12-18T23:35:21.518+00:00Uma aventura nas urgências<div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Por vontade dela, a mulher da minh'alma metia em casa tudo quanto é cão e gato, e comia com eles à mesa. A soleira da porta alentejana é hoje uma espécie de sopinhas do Sidónio ou Santa Casa da gataria das redondezas. Há dias, um dos sacaninhas, um minorca a quem ela tentou tratar de uma pata magoada, pagou-lhe o amor mordendo-a na mão com afã e descaro. Seguiu-se princípio de infecção, vacina anti-tetânica, antibiótico, as coisas do costume.</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Só que este último era do tipo que já lhe dera em tempos terríveis dores de estômago. E voltou a dar. Às 9 de uma destas belas noites geladas, lá demanda este vosso criado, com ela torcendo-se, as urgências de um hospital público.</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">A triagem foi rápida, mas depois seguiram-se as trevas: 4 horas de dolorosa, angustiada e cada vez mais encolerizada espera, sem razão aparente para isso, pois reinava a calma na zona, havia pouca gente e não chegou uma única ambulância. Imigrantes, ressacados, bêbedos, indigentes, o <i>lumpen</i> da ordem, esperavam pacientemente na sala. Atrás de um vidro, funcionários com a simpatia de gárgulas medievais não davam uma informação ou satisfação de jeito: "O doutor atende quando puder." Nem iras, nem choros, nem finalmente pedidos de livro de reclamações comoveram quem quer que fosse. "Não temos, escreva uma carta à administração do hospital." À uma da manhã, desistimos, que se lixe o antibiótico. Vamos para casa.</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Mas a infecção ameaçava progredir. Não vamos brincar com essas coisas: às 9 da noite do dia seguinte, o casalinho volta às urgências, mas de outro hospital que do primeiro nem ouvir falar era bom. </span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Ambiente ainda mais soturno, sala escura e mal cuidada. Quase vinte minutos de espera numa fila para a inscrição, seguindo-se nova espera interminável por um primeiro atendimento. Os critérios de chamada são tão obscuros como a sala, onde se espraia a habitual mistura social. A confusão é espessa. Chegam ambulâncias de vez em quando, trazendo misérias, desgraças e aflições. Há gente que espera pacientemente, outros protestam. Um grupo rodeia médicos e enfermeiras desolados, tentando perceber o que terá acontecido ao processo de um paciente, que se evaporou misteriosamente. Entornado numa maca, um jovem de gorro na cabeça, no mais adiantado estado de degradação química, tenta regularmente pôr-se de pé mas não se tem nas pernas. Implora que lhe chamem um táxi, chora pelo telemóvel para que alguém o venha buscar - mas é evidente que nem no hospital nem na família há quem esteja para aí virado.</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Passadas quase três horas, em que pelo menos já não havia dores de estômago, lá se tenta saber das razões de tanta espera. "Mas já chamámos a senhora três vezes." Chamaram uma ova. Mas vai-se a ver e chamaram mesmo, só que pelo nome errado. Tinham-se enganado a transcrevê-lo.</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Etapa seguinte: nova espera para ser atendida pelo médico, em nova sala fria e malcheirosa, servida por casas de banho imundas, cheia de doentes em maca que dormem, resfolegam, gemem e protestam. Há um que, subitamente curado pelo desespero, se levanta e tenta pôr-se dali para fora, até ser impedido por familiares e encarregados. Um preso algemado à cadeira de espera é escoltado por dois polícias entediados que o ameaçam entre dentes à mais ténue tentativa de se mexer. A fome aperta, mas não há sequer uma miserável máquina de café, quanto mais de bolachas ou qualquer coisa que se trinque. </span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Só quase lá para a 1 da manhã é que somos chamados, atendidos e mandados embora com o problema resolvido. Lá fora no passeio, solitário na noite gelada, abraçado de cócoras a um pilarete metálico, o jovem de gorro murmura coisas vagas por entre as quais se pressente que implora, protesta ou simplesmente se lamenta. Suspeito que o infeliz ainda lá esteja.</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">No total dos dois dias, foram quase 8 horas de inferno nas garras do sistema hospitalar de uma capital europeia (durante as quais, além de tudo, não vimos um único empregado de limpeza) apenas para obter a receita de um antibiótico que não fizesse dores de estômago, que finalmente se conseguiu num quarto de hora de consulta por uma médica de extrema simpatia e competência. </span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">"É a mesma coisa em todo o lado," disse-nos o homem do táxi. "Se quiserem ser bem atendidos vão ao privado." Isto é cada vez mais evidente perante a degradação e o desinvestimento nos serviços públicos, nomeadamente nos de saúde. Mas saí da aventura com um respeito renovado pelo Serviço Nacional de Saúde e pelos hospitais portugueses, onde nunca fui tão mal atendido nem testemunhei tamanho desleixo - por enquanto. É que quase me estava a esquecer de dizer que isto se passou em Paris, primeiro no hospital Bichat, depois no Lariboisiére, num país cujo sistema nacional de saúde já foi considerado modelar. </span></div>JPBhttp://www.blogger.com/profile/17738339754747276838noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-576636221904267221.post-3019417198503166672010-12-14T13:07:00.003+00:002010-12-15T00:16:57.754+00:00O frio em Paris<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"></div><div class="separator" style="clear: both; margin: 0px; text-align: center;"><span class="Apple-style-span" style="color: #555555; font-family: "Trebuchet MS", Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 16px;"></span></div><div style="text-align: left;"><a href="http://www.blogger.com/goog_2011456274"><img border="0" height="480" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjmZR7l1ONJU58ibsBGvAkRUyfK-yj0Fc_sVCQu2UEDSmUGcjtrpB7SGyHtZwt6sEkoprkkLwEWHLc6QhhcDlStkx2hZcuixVACdOBWwJF7ZmpG4WnX7O4tsrpNflJTx1sN8Qw1iisvDXDM/s640/DSC00009.JPG" width="640" /></a></div><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://www.blogger.com/goog_2011456274" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: justify;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg3ReH_N5zQJQA0-cBZN4AZlcCQSo5tilRttvL4gpdKEh3mOsgy6UT_udKljQhjfWilmpsXKQQwB05Us_qcAffyuCuzDDCMGJNtVlqqVipiWohzA4T6AtwUKyF-XrO8AW9qrzNpTJ3-FaSP/s320/DSC00102.JPG" width="240" /></a></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="line-height: 16px;"><i><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />
</span></i></span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="line-height: 16px;"><i><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Il peut pleuvoir<br />
Sur les trottoirs<br />
Des grands boulevards<br />
Moi j'm'en fiche<br />
J'ai ma mie<br />
Auprès de moi<br />
Il peut pleuvoir<br />
Sur les trottoirs<br />
Des grands boulevards<br />
Moi j'm'en fiche<br />
Car ma mie<br />
C'est toi</span></i></span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="line-height: 16px;"><i><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> (Jacques Brel)</span></i></span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />
</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="-webkit-text-decorations-in-effect: none; color: black; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />
</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="-webkit-text-decorations-in-effect: none; color: black; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />
</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Há neve nas Tulherias. E um frio de rachar. Nas traseiras da Notre Dame, uma qualquer Cinderella pós-moderna largou um sapato. Ninguém liga. Os príncipes casadoiros não andam na rua com este frio de gelar paixões. Andam na Internet.</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="-webkit-text-decorations-in-effect: none; color: black; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Mas na praça St. Michel há gente de joelhos, quieta ao frio, rezando alto, em protesto contra o aborto: </span><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><i>Notre Père, qui êtes aux cieux...</i></span><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><i>Que votre nom soit sanctifié... </i></span><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><i>Que votre règne arrive...</i></span><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><i>Que votre volonté soit faite sur la terre comme au cie</i>l. Eu nem quero acreditar - parece que estou em Fátima e não no Quartier Latin. Alguns CRS vigiam, de equipamento em riste, prevendo qualquer contra-manif. </span><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Quem disse que já não se reza na França céptica, "filha mais velha da Igreja"? Em Paris acontece de tudo, já o devia saber. </span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgBXDnXCRqwTF1DrKtgpEp7PahUB0XfX1cvm3Llenz75jlCiJCPs67Lx0me8_1Ly_USEj9-2vqiXodpgbYyNRhaSKsb-TmW55rg_s55qCwwTVQUPMlBcIYPVLOr4JhK4lK2XJczBrU3oq-4/s1600/DSC00129.JPG" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: justify;"><img border="0" height="480" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgBXDnXCRqwTF1DrKtgpEp7PahUB0XfX1cvm3Llenz75jlCiJCPs67Lx0me8_1Ly_USEj9-2vqiXodpgbYyNRhaSKsb-TmW55rg_s55qCwwTVQUPMlBcIYPVLOr4JhK4lK2XJczBrU3oq-4/s640/DSC00129.JPG" width="640" /></a></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Da porta da Madeleine, vê-se ao longe a Assembleia Nacional, com a Concórdia pelo meio: dois templos gregos recobrindo um o poder espiritual, outro o temporal, diante um do outro, iguais nos seus frontões. O urbanista quis pô-los assim, encarando-se, vigiando-se, desafiando-se? Nunca tinha reparado nisso, absorvido com o barulho das luzes. Reparo agora, que entro na Madeleine. Gosto de igrejas, estejam elas onde estiverem. E Paris vale bem uma missa, lá dizia o outro. </span></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgaQCcst4jMarv94javfBkh2VHC1Hp_n_V3QtHiHfWfrVyrcqNzOh6x-vuavu8Xu0gsYpjUKm8Fsq0D-vW2pC2FBeJWaSrZttAwNK8h-9-sIn58V4N_yGPetVKvtIm-qJY5HvnjYDUUYcrU/s1600/DSC00015.JPG" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: justify;"><img border="0" height="480" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgaQCcst4jMarv94javfBkh2VHC1Hp_n_V3QtHiHfWfrVyrcqNzOh6x-vuavu8Xu0gsYpjUKm8Fsq0D-vW2pC2FBeJWaSrZttAwNK8h-9-sIn58V4N_yGPetVKvtIm-qJY5HvnjYDUUYcrU/s640/DSC00015.JPG" width="640" /></a></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Ali à beirinha compro chocolates, chás e <i>patés</i> no Fauchon. Em Portugal chamar-lhe-iam <i>gourmet.</i> Em Portugal chamam <i>gourmet</i> ao que é simplesmente bom, é uma mania recente, pacóvia e espertalhaça, que serve para cobrar mais pelo que deveria ser corrente. É como o Correio Azul, que leva dinheiro para fazer o que qualquer correio normal e decente deveria fazer: entregar as coisas a horas. Qualquer tasca de Paris seria <i>gourmet</i> em Lisboa, qualquer café de esquina (são quase todos de esquina) seria casa de luxo, com cadeiras de palhinha, veludos, candeeiros e espelhos. Mas em Paris é simplesmente um café, um sítio onde é agradável estar. </span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Ainda por cima com este frio selvagem. Mas </span><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Paris com frio também existe. Não dá para a </span><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><i>balade,</i> que essa é boa na Primavera, quando florescem os castanheiros. Mas dá para o calor burguês, o vinho morno, o cheiro do papel numa livraria, o amor entre coxins de veludo vermelho e papel de parede com anjinhos e grinaldas. A força dos <i>clichés</i> é tanta que não há remédio.</span><br />
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiesAn75QUgm4BVN7lN5yAqOHNRYfmJcr2FyK8E0SWA59h2eRZF_jQ3ySjTKF3QP-UWi87-WqmVktxO-cvPrDyCXci8JGql_xWtjh8t9XRwehU6RH48dRO1d3vKvprevipFt2TdomRbzY8v/s1600/DSC00039.JPG" imageanchor="1" style="clear: left; display: inline !important; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="150" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiesAn75QUgm4BVN7lN5yAqOHNRYfmJcr2FyK8E0SWA59h2eRZF_jQ3ySjTKF3QP-UWi87-WqmVktxO-cvPrDyCXci8JGql_xWtjh8t9XRwehU6RH48dRO1d3vKvprevipFt2TdomRbzY8v/s200/DSC00039.JPG" width="200" /></a><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Há uma Paris para cada gosto. Frívola ou profunda, burguesa ou revolucionária, rica ou pobre. Cada um pode tirar dela o que quiser. As grandes avenidas do barão Haussman foram rasgadas para o progresso, o comércio, a ordem - e também para a cavalaria ter espaço para carregar sobre o povo, depois das convulsões do meio-século XIX. Na margem esquerda já não há calçadas, que foram esventradas em Maio de 68 em busca da praia que se dizia estar debaixo delas, e para lançar os <i>pavés</i> à cabeça dos polícias. Agora o <i>Boul'Mich</i> é alcatroado. Nas vielas de Montmartre ainda se evocam artistas esfomeados, cantores bêbedos, gatos vadios, putas e sons de acordeão, mas também as barricadas e o sangue da Comuna. O Marais de má nota deu em </span><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><i>trendy. </i></span><br />
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgAHf7lsAzjidZX1Bv34_oT43Ml9HH0HiXVQFVt64vo4LRSUAIxlmqUaP24Zh-0XEFLIXq7851AufWfByLbRedx-Z6mMSeDu0zv-o0ZapRWLtFaxMY4vtMbcYu2nELnBMNIrEYWuf2jIJIx/s1600/DSC00031.JPG" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgAHf7lsAzjidZX1Bv34_oT43Ml9HH0HiXVQFVt64vo4LRSUAIxlmqUaP24Zh-0XEFLIXq7851AufWfByLbRedx-Z6mMSeDu0zv-o0ZapRWLtFaxMY4vtMbcYu2nELnBMNIrEYWuf2jIJIx/s320/DSC00031.JPG" width="320" /></a><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Mas a verdade é que Paris, e a França com ele (ou ela. Até no nome, que não se sabe se é feminino ou masculino, Paris dá para tudo) deixou de produzir génio. Alguém dizia que a França não tinha petróleo mas tinha ideias. Duvido que ainda as tenha, e se não arranjar petróleo depressa, está tramada. Já ninguém fala francês, e até eu, que quase o bebi nas papas da infância, o descubro por vezes enferrujado. Paris não morreu, mas quem a mantém viva são milhões de pessoas para quem a cidade em particular, e a França em geral, ainda simbolizam qualquer coisa que não seja um simples valor de mercado.<a href="http://janela48.blogspot.com/2010/06/o-centuriao.html"> Para a gente da minha geração, havia duas Franças, qualquer delas um farol</a>. Nenhuma delas existe mais. Mas a memória de ambas vai demorar muito tempo a morrer. E Paris será sempre o que quisermos dela. É por isso que lá voltarei sempre como se fosse a primeira vez.</span></div>JPBhttp://www.blogger.com/profile/17738339754747276838noreply@blogger.com9tag:blogger.com,1999:blog-576636221904267221.post-60996721416716724342010-12-03T20:01:00.001+00:002010-12-03T20:18:27.458+00:00Tempo de vésperas<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><a href="http://janela48.blogspot.com/2010/11/apontamentos-de-uma-cimeira_22.html">Catarina, a Imperatriz, dizia que a Rússia é demasiado grande para ser governada por mais do que uma pessoa. Quem a governa hoje? É este baixinho com ar de funcionário atilado? É este pachola? Ou é ainda o outro, Putin (...)?</a> </span><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Parece que sou bruxo ao dizer isto, uns poucos de dias antes de se saber <a href="http://news.in.msn.com/international/article.aspx?cp-documentid=4638509">isto</a>. Mas não sou, é apenas senso comum. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Winston Churchill dizia que a Rússia (na altura, a URSS) era um segredo envolto num enigma dentro de um mistério. Nunca se sabia o que lá ia dentro, nem o que de lá sairia. Mas uma coisa é certa: pode haver lá de tudo menos "democracia" ou "estado de direito," que nunca foram coisas muito russas, nem era agora que passariam a ser. O segredo não esconde o facto de não haver milagres. E milagre seria que um homem estruturalmente autoritário e russo como Vladimir Putin, formado nessa escola de virtudes democráticas que era o KGB, e que agarrou o poder com as duas mãos, o largasse por meras questões técnicas.</span></div><ul><li><div style="text-align: justify;"></div></li>
</ul><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;">À Rússia fazia falta um campeonato do mundo de futebol, que lhe foi dado agora para organizar. Se me tivesse dado ao trabalho de o escrever aqui, teria ficado exarado que eu já sabia que isso ia acontecer, continuando a não ser bruxo. O processo de aproximação ao Ocidente ilustrado na cimeira da NATO em Lisboa precisava disso, como vai precisar de mais coisas. O gás russo ainda é muito necessário, a emergência da China exige um contrapeso geostratégico urgente.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;">Daqui para a frente, só mesmo por força maior é que não vamos andar aos beijos na boca com a Rússia, enquanto cortejamos a China. Nenhum deles flor que se cheire em termos de regime político. E que se dane a defesa do estado de direito, da democracia, dos direitos humanos, daquela que José Cutileiro definiu há tempos como a mais decente forma de se viver em sociedade que até hoje foi inventada. Depois pensa-se nisso, até porque há uma crise economico-financeira de proporções históricas que não vai lá com paninhos quentes, que nos atormenta enquanto os colossos extra-ocidentais se perfilam no horizonte. Para o desenvolvimento dessa forma de viver está a chegar um interlúdio. O programa seguirá dentro de momentos. Se seguir.</span></div>JPBhttp://www.blogger.com/profile/17738339754747276838noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-576636221904267221.post-6017431367371532372010-12-01T15:23:00.003+00:002010-12-02T14:29:07.373+00:00Os meus livros<div style="text-align: justify;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjBOvOfLRByLFW0EF2maP0QE___mxwu7vKwTMD9MUfaYGWloloU6Ig8OnO9qcAqSbihCXex4-MRAOyN0Xnri5MReZpRe3SLmsD_NC5SPlFE5FlRwBaQmLHO5NkLE3xGfSOC7JN-F1pIGELi/s1600/digitalizar0001.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjBOvOfLRByLFW0EF2maP0QE___mxwu7vKwTMD9MUfaYGWloloU6Ig8OnO9qcAqSbihCXex4-MRAOyN0Xnri5MReZpRe3SLmsD_NC5SPlFE5FlRwBaQmLHO5NkLE3xGfSOC7JN-F1pIGELi/s320/digitalizar0001.jpg" width="212" /></a></div><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Riobaldo ama Diadorim. Não é que Riobaldo goste de homens, é jagunço como Diadorim, cabra macho. Mas não teve remédio, há coisas que não se percebem mas têm que se aceitar, e Riobaldo apaixonou-se pela beleza de Diadorim, enquanto deambulavam nas tropelias da vida e da morte pelos "sertões das gerais," sul da Bahia e norte de Minas. Riobaldo gostaria de sossegar da jagunçagem, assentar ao lado de Diadorim, seu amor platónico. Mas este não pára enquanto não vingar a morte do pai. Nesta história há tudo: drama, enganos, dívidas de sangue, pactos com o Diabo, recontros. E morte. E o sertão, que "está em toda a parte." E há a linguagem com que Guimarães Rosa a escreveu, um português à solta que não existe na natureza mas foi trabalhado palavra a palavra em cima dos falares sertanejos. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Não é que eu tenha lido um dos livros da minha vida. Não o li todo. "Grande Sertão: Veredas" é ilegível de fio a pavio, porque cada página é um esforço de ultrapassar o fascínio pela forma para chegar ao conteúdo. Ao fim de dez estamos felizes mas arrasados - e elas são para cima de quinhentas. Não li o livro todo, mas beberrico páginas avulsas de vez em quando, como agora voltei a fazer e por isso aqui digo, para saborear coisas como estas que abro ao calhas:</span></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><em>Do que podia suceder. Vi homem despencando demais, os cavalos patatrás! Dada a desordem. Só cavalo sozinho podia fugir, mas os homens no chão, no cata cata. Ao que, a gente atirava! Se morria, se matava, matava? Os cavalos, não. Mas teve um, veio, à de se doidar, se espinoteava, o cavaleiro não aguentava na rédea, chegaram até perto de nós, aí todos os dois morreram de repente. Meu senhor: tudo numa estraga extraordinária</em>. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;">(...)</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><em>Daí, deu um sutil trovão. Trovejou-se, outro. As tanajuras revoavam. Bateu o primeiro toró de chuva. Cortamos paus, folhagem de coqueiros, aumentamos o rancho. E vieram uns campeiros, rever o gado da Tapera Nhã, no renovame, levaram as novilhas em quadra de produzir. Esses eram homens tão simples, pensaram que a gente estava garimpando ouro. Os dias de chover cheio foram se emendando. Tudo igual - ás vezes é uma sem-gracez. Mas não se deve de tentar o tempo. As garças é que se praziam de gritar, o garcejo delas, e o socó-boi range cincerros, e o socó latindo sucinto. Aí pelo mato das pindaíbas avante, tudo era um sapal. Coquexavam. De tão bobas tristezas, a gente se ria, no friinho de entrechuvas.</em></span></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Já lhe chamaram "livro gay", mas "Grande Sertão: Veredas" é tão gay como "Morte em Veneza"<em>.</em> Está muito para além de coisa tão simples. Não é um "Brokeback Mountain" <em>avant la lettre</em> (é de 1956) e sertanejo. É o que cada um quiser que ele seja, coisa que define as grandes obras. Para mim, é esta delícia de invenção no falar e dizer, e é também a sede de uma das mais belas e comoventes cenas de amor de toda a ficção, quando Diadorim é finalmente morto numa refrega, jaz ensanguentado e Riobaldo, louco de dor, lhe descobre enfim o segredo:</span></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><em>Sufoquei, numa estrangulação de dó. Constante o que a Mulher disse: carecia de se lavar e vestir o corpo. Piedade, como que ela mesma, embebendo toalha, limpou as faces de Diadorim, casca de tão grosso sangue, repisado. E a beleza dele permanecia, só permanecia, mais impossivelmente. Mesmo como jazendo assim, nesse pó de palidez, feito a coisa e máscara, sem gota nenhuma. Os olhos dele ficados para a gente ver. A cara economizada, a boca secada. Os cabelos com marca de duráveis... Não escrevo, não falo! - para assim não ser: não foi, não é, não fica sendo! Diadorim...</em></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><em>Eu dizendo que a Mulher ia lavar o corpo dele. Ela rezava rezas da Bahia. Mandou todo o mundo sair. Eu fiquei. E a Mulher abanou brandamente a cabeça, consoante deu um suspiro simples. Ela me mal-entendia. Não me mostrou de propósito o corpo. E disse...</em></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><em>Diadorim - nu de tudo. E ela disse:</em></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><em>- "A Deus dada. Pobrezinha..."</em></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><em>E disse. Eu conheci! Como em todo o tempo antes eu não contei ao senhor - e mercê peço: - mas para o senhor divulgar comigo, a par, justo o travo de tanto segredo, sabendo somente no átimo em que eu também só soube... Que Diadorim era o corpo de uma mulher, moça perfeita... Estarreci. A dor não pode mais do que a surpresa. A coice d'arma, da coronha...</em></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><em>Ela era. Tal que assim se desencantava, num encanto tão terrível; e levantei a mão para me benzer - mas com ela tapei foi um soluçar, e enxuguei as lágrimas maiores. Uivei. Diadorim! Diadorim era uma mulher. Diadorim era mulher como o sol não acende a água do rio Urucuia, como eu solucei meu desespero.</em></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><em>O senhor não repare. Demore, que eu conto. A vida da gente nunca tem tempo real.</em></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><em>Eu estendi as mãos para tocar aquele corpo, e estremeci, retirando as mãos para trás, incendiável: abaixei meus olhos. E a Mulher estendeu a toalha, recobrindo as partes. Mas aqueles olhos eu beijei, e as faces, a boca. Adivinhava os cabelos. Cabelos, que cortou com tesoura de prata... Cabelos, que no só ser, haviam de dar para baixo da cintura... E eu não sabia por que nome chamar; eu exclamei, me doendo:</em></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;"><em>- "Meu amor!..."</em></span></div>JPBhttp://www.blogger.com/profile/17738339754747276838noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-576636221904267221.post-75726028590125162442010-11-22T22:52:00.016+00:002010-11-23T18:20:00.436+00:00De uma cimeira<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhDB8CPUcQ67UTLoBjpf2p-CbtHnpQdITkF9IRpxrKFuA1eZn9UULDvFtolMocakW1Z5er-FYa0RUrPyIE6v6bgdecTMLVHHlQNqqQ0Yj6YHnkJBTTHoIqZn6BGlxdU2HKBnAr7JK1Yot6L/s1600/DSC_0010.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="424" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhDB8CPUcQ67UTLoBjpf2p-CbtHnpQdITkF9IRpxrKFuA1eZn9UULDvFtolMocakW1Z5er-FYa0RUrPyIE6v6bgdecTMLVHHlQNqqQ0Yj6YHnkJBTTHoIqZn6BGlxdU2HKBnAr7JK1Yot6L/s640/DSC_0010.JPG" width="640" /></a><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Durante dois dias, a FIL pareceu um objecto de ficção científica, uma qualquer base lunar hermeticamente isolada. Milhares de pessoas ali fechadas, no meio de uma segurança intransponível, para um circo diplomático com guião conhecido, espectáculo garantido e resultado anunciado. Estas cimeiras são as fotografias mais caras de toda a história das relações internacionais. Dezenas de líderes nacionais tiram umas horas para virem mostrar-se, fingindo que vêm resolver coisas enquanto nós fingimos acreditar nisso. Mas não fazem nada que um telefonema, ou uma videoconferência, não fizesse. Dito isto, estas encenações são essenciais. O poder é tanto acção efectiva como imagem de si próprio. O poder, e as suas relações, é como o amor: não basta sê-lo, há que parecê-lo. Tem que ser coreografado, sob pena de não ser efectivo. Estaline perguntava quantas divisões tinha o Papa - e o Papa sabia que não precisava de nenhuma, tinha todo o peso da liturgia valendo por mil divisões. O poder, as relações de poder, vivem de percepções, de imagens, de encenações, de cerimónias. Sem elas, seria apenas um exercício vão de homens despidos de qualquer força. </span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"></div><ul><li><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />
</span></li>
</ul><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Então eu vi Dmitri Medvedev. Homem pequenino - ou velhaco ou bailarino. Mas este tem ar de saber dançar. Catarina, a Imperatriz, dizia que a Rússia é demasiado grande para ser governada por mais do que uma pessoa. Quem a governa hoje? É este baixinho com ar de funcionário atilado? É este pachola? Ou é ainda o outro, Putin, o ex-KGB, o <i>sex-symbol </i>que caça feras de tronco nu nos Urais para fazer sonhar as caixeirinhas de Moscovo e manter em respeito os ânimos do resto do mundo?</span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"></div><ul><li><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />
</span></li>
</ul><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Vi o baixote em Lisboa, ali a uns metros de mim, e perguntei-me se ela trazia mesmo a Rússia com ele. A Rússia dos silêncios grandes como uma jornada na estepe, da grande literatura, da grande música, e também a dos possessos, dos místicos, das paixões desatinadas, dos niilistas, dos caminhantes, dos bêbedos, das torres sobre os rios gelados que guardam coisa nenhuma, das planícies infinitas onde se vive e morre sem nome, como as folhas das árvores.</span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"></div><ul><li><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />
</span></li>
</ul><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">A Rússia dos soldados impassíveis que guardam o Kremlin com olhos cinzentos e gelados de lobos da tundra é também a das mulheres belas como deusas hiperbóreas, que a derrocada soviética nos devolveu - a nós que durante 40 anos achámos que lá só havia matronas hediondas com dentes de ouro e maridos funcionários do Partido. </span></div><div style="text-align: justify;"><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;"></div></div><div style="text-align: justify;"><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;"><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Essa foi, reconheçamo-lo, uma dádiva não dispicienda da queda do comunismo, que entre os seus maiores erros tinha o de não ser erótico. A Ninotshka e as KGB's boazonas que acabavam na cama com James Bond enquanto o queriam matar não contam, até porque muito do seu <i>sex-appeal </i>vinha precisamente do facto de serem uma ficção incongruente. Só nos romances é que havia disso, e aristocratas misteriosas e doridas, fugidas aos bolcheviques e levando vidas dignamente modestas no exílio de Paris enquanto os seus brasonados maridos guiavam táxis para sobreviver. Para a minha geração, as russas ou eram <i>babushkas</i> trágicas ou rudes moçoilas de lenço na cabeça e braços roliços, guiando tractores para cumprimento de planos quinquenais ou parindo heróis da revolução. <a href="http://edeuscriouamulher.blogs.sapo.pt/tag/masha+novoselova">Não eram nada disto.</a> </span></div><div style="text-align: justify;"></div><ul><li><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> </span></li>
</ul></div></div><div style="text-align: justify;"><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;"></div></div><div style="text-align: justify;"><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;"><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">O pachola do Medvedev não trouxe na pasta a Rússia paranóica e com pavor do cerco, esse país colossal e ao mesmo tempo singularmente encravado entre gelos eternos, desertos hostis e impérios adversos, com acesso difícil aos mares quentes e à circulação vital dos oceanos. Veio dizer ao não menos pachola Obama que a Rússia dele quer ser muito amiga, e colaborar imenso. Claro que não lhe disse que ao mínimo sobressalto invade a Geórgia, ou coisa que o valha. O urso dorme com um olho aberto. Não se sofrem impunemente 20 milhões de mortos só da última vez que alguém quis violar a Grande Mãe Rússia - fora as outras. Lá ao fundo, no seu gabinete, Putin vela, de arma aperrada, e com ele velam os eternos fantasmas russos, feitos de sangue e lágrimas. Não são 20 anos de pseudo-democracia que vão apagar mil anos de chicote. Não são palavras e promessas que vão curar complexos. Não é agora, só porque o petróleo já não dá para grandes gastos, a China despertou finalmente e toda a gente é amiga no Facebook, que a Rússia vai deixar de ser o que é.</span></div><div style="text-align: justify;"></div><ul><li><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />
</span></li>
</ul><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Não é agora que as coisas vão deixar de ser o que são, só porque a NATO anuncia que se vai embora do Afeganistão - coisa nunca vista na história das guerras. Se eu fosse talibã sentava-me calmamente, guardava-me de canseiras e poupava as balas para daqui a quatro anos. Até lá, a NATO vai dedicar-se a treinar e armar o exército afegão, para ver se ele acaba o trabalho que está longe de acabado. Isto é, não só não tem conseguido matar um monstro como está a criar outro. Já vimos este filme. Os próprios talibã foram criados nos anos 80 pelos serviços secretos paquistaneses, com dinheiro americano, para combaterem os soviéticos. Postos os soviéticos a andar, a coisa deu no que se sabe. Osama bin Laden era, nesses tempos, um útil <i>mudjahidin</i> anti-soviético, abençoado pela CIA. Não descansou enquanto não rebentou com o World Trade Center. Uma das grandes lições da História é que os homens nunca aprendem com as lições da História.</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">No Afeganistão, a honra manda que os homens não se vendam - mas alugam-se facilmente. Naquela manta de retalhos tribal em que se muda de fidelidades como quem muda de chapéu, o que a NATO está a fazer é a treinar e armar inimigos mais competentes. Já houve esquadras inteiras de polícia que desertaram com armas, bagagens e o precioso treino ocidental.</span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Amanhã serão regimentos e batalhões. O governo do pavão Kharzai, se entretanto não lhe tratarem da saúde por um pior ainda, continuará alegremente a recolher os dízimos e os óbulos dos senhores da guerra e do ópio. O Afeganistão não vai deixar de ser o que é. E, ao lado, o Paquistão tem bombas atómicas e cada vez mais malandragem à solta.</span></div><div style="text-align: justify;"></div><ul><li><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />
</span></li>
</ul></div></div><div style="text-align: justify;"><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;"><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Ainda não vimos nada.</span></div></div></div>JPBhttp://www.blogger.com/profile/17738339754747276838noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-576636221904267221.post-29539238063531259512010-11-17T00:25:00.001+00:002010-11-17T00:28:08.253+00:00Intermezzo<div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">No domingo passado estava um homem a ler os</span><i><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> Contos</span></i><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> de Bertrand Russel enquanto almoçava na marisqueira <i>O Cabecinha</i>, em Aljustrel. Eu nem sequer sabia que Russel tinha contos publicados, ou pelo menos publicados em português. Não é que me interesse muito, porque a criatura já me deu o que tinha a dar há muitos anos, e para mim é assunto encerrado. Tenho mais coisas que me ralem. O que me tira do meu remanso para aqui vir dar ao dedo é que isto de descobrir alguém a ler Bertrand Russel enquanto come secretos de porco preto e bebe um branco da Herdade da Malhadinha n'<i>O Cabecinha </i>de Aljustrel (que recomendo sem rebuço) é daquelas pequenas coisas sem grande importância que tornam a vida engraçada.</span></div>JPBhttp://www.blogger.com/profile/17738339754747276838noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-576636221904267221.post-47698541327626382582010-11-16T08:44:00.015+00:002010-11-16T13:10:25.684+00:00Correntes<div style="text-align: justify;"><div class="separator" style="clear: both; margin: 0px; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj0V8n42LBzW7KeqGpqEHRxXjIzRaCBdXNOCYznaF3YPnHwrBwbfZfBNgt90C_rCbSfVYLTzRaM-1tzibSDCJF3xARB0z-jiUsJGPRnxu3fIaofobdv6hv79vnaHFXNo0E8JkUyyuw1-nhQ/s1600/DSC_0034.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="424" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj0V8n42LBzW7KeqGpqEHRxXjIzRaCBdXNOCYznaF3YPnHwrBwbfZfBNgt90C_rCbSfVYLTzRaM-1tzibSDCJF3xARB0z-jiUsJGPRnxu3fIaofobdv6hv79vnaHFXNo0E8JkUyyuw1-nhQ/s640/DSC_0034.JPG" width="640" /></a></div><div style="margin: 0px; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">O </span><a href="http://imagenscomtexto.blogspot.com/2010/11/correntes.html"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">jjamarante</span></a><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">, que é um querido, referiu-me numa coisa chamada "corrente," pela qual as pessoas que fazem blogues vão dizendo bem umas das outras. Ora eu, das correntes, sempre achei que quando uma passasse por mim fugiria, como daqueles comboios que se faziam nas festas, percorrendo a casa com chapelinhos de cartolina </span><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">na cabeça, arrebanhando incautos ao som de marchinhas brasileiras. Mas ele, que tem um blogue notável pelo que nos ensina sobre a pureza de olhar as coisas, não merece que eu agora seja envergonhado, ou modesto. Mais tarde ou mais cedo eu teria que fazer uma coisa destas, e agora é tão boa altura como qualquer outra.</span></div></div><div style="margin: 0px; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Acontece que sou um péssimo classificador de blogues, pois a grande maioria dos que existem partilha a característica essencial de não serem lidos por mim. A blogosfera é um mar que eu navego erraticamente e sem cartas ou diário de bordo. Por isso não posso, legitimamente, fazer uma classificação. Não sou um coca-bichinhos como a</span><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> </span><a href="http://jugular.blogs.sapo.pt/user/mjoaopires"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Shyznogoud</span></a><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> (ninguém é, acho). Também não é por ela ser minha amiga, mai-la mana, e de vez em quando ter a pachorra de me referir que eu a refiro a ela e àquele antro que é o Jugular, que eu leio muitas vezes e nomeadamente quando me está a apetecer irritar com qualquer coisa. O </span><a href="http://blogavalon.wordpress.com/"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Jorge C.</span></a><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> sabe do que falo, e sabe que também o amo. </span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Com a peripatética </span><a href="http://blocodenotas-la.blogspot.com/"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Luísa</span></a><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> palmilho a cidade que nos calhou </span><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">em sorte para nascer ou dela sermos, e que é a mais feia do mundo, à excepção de todas as outras. Refiro o </span><a href="http://acausafoimodificada.blogs.sapo.pt/"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">maradona</span></a><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> entre os pesos-pesados (como dizem as meninas das informações da Bolsa e do PSI 20) porque me diverte a maneira como ele se diverte fazendo os outros levarem-no a sério, e muitos levarem-se a si próprios também. No registo "passado da carola" tenho o <a href="http://atumacaco.blogspot.com/">Atum Macaco</a>, pela sintaxe e pela forma como tortura as palavras e expressões mais inocentes, coitaditas. E quero aqui referir a descoberta recente e casual do </span><a href="http://www.pipocomaissalgado.blogspot.com/"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">pipoco</span></a><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">, um rapaz snob que tem uma expressiva e fiel ranchada de comentadoras boas como o milho e singularmente erotizadas por ele. É a inveja de qualquer um. Quanto ao resto (<i>but not the least</i>, porque valem todos a pena,) é favor ver a lista de vizinhos aí do lado, que eu não tenho a vossa vida.</span></div>JPBhttp://www.blogger.com/profile/17738339754747276838noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-576636221904267221.post-8209011805082536332010-11-12T01:00:00.002+00:002010-11-12T01:06:27.845+00:00Coisamailinda<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><img border="0" height="424" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEin9BORveF0rw1jaT2rxNjp4xI1Op4XFr5C_C_uENdfGPKrGqSS7pqinVbxrIQr8mN1xra0lhcr00XJWxqKEdAaZ_T2PFhgdtBgql2YhCU7JSlR4uHXebN1XCZawY4MxaZnOJWaUo8llazD/s640/DSC_0009.JPG" width="640" /><span class="Apple-style-span" style="-webkit-text-decorations-in-effect: none; color: black;"><b><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Para as bandas de Castro Verde</span></b></span></div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-align: center;"><b><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />
</span></b></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">No Alentejo, a terra ondeia como o corpo de uma mulher. Ou estende-se como um tapete vivo. Os homens são como as árvores: ora juntos ora dispersos, mas iguais, em pé contra todos os ventos, e de casca dura. Ficam ali, quietos, olhando o horizonte, sabendo que no dia em que conseguirem tocá-lo estará perto o fim da jornada. Por isso não têm pressa.</span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">No Alentejo, os deuses não têm píncaros de onde observar os homens. Por isso, têm que se misturar com eles, comer e beber das mesmas malgas, palmilhar os mesmos caminhos. Também por isso as igrejas são belas, mas têm pouca gente. Os homens confiam mais em si próprios, e uns nos outros, do que num poder qualquer.</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">No Alentejo, vê-se até muito longe, e o longe é perto. A terra muda de cor, cobre-se de penugem, fica seca, estala ou canta sob a água. E os caminhos nunca acabam.</span></div>JPBhttp://www.blogger.com/profile/17738339754747276838noreply@blogger.com8tag:blogger.com,1999:blog-576636221904267221.post-2086918991978651152010-11-11T10:13:00.004+00:002010-11-12T10:25:04.356+00:00Quem tem medo do andar de cima?<div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Desde que novos vizinhos se mudaram há uns meses para o andar por cima do meu na Grande Alface, o lugar deixou de ser sossegado. São jovens e recebem muitos amigos. Aos fins de semana é uma gritaria de conversas lá em cima, e música. Nos outros dias, são geralmente sons cavos de </span><i><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">home cinema. <span class="Apple-style-span" style="font-style: normal;">De manhã cedo, todas as manhãs, ela saltita pela casa de saltos altos.</span></span></i></div><div style="text-align: justify;"><i><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><span class="Apple-style-span" style="font-style: normal;">Uma destas manhãs, saltitou mais do que o costume, e de forma mais nervosa. Julgo saber porque foi: é que na véspera, em vez de risos, gritos, ou filmes, houve só gritos. </span></span></i><span style="font-family: Arial;">Entre as onze e a uma da manhã, mais coisa menos coisa, ela não se calou, gritando-lhe raivas, revoltas, amarguras, desilusões, eu sei lá. Não percebi uma palavra. Mas foi um desandar do que lhe ia dentro. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;">Quanto a ele, não sei. Certamente interagiu com ela, mas nunca o ouvi, nem geralmente lhe oiço os passos de manhã. Provavelmente usa solas de borracha. Provavelmente, ouve e cala, ou fala num registo menos estridente. Não sei. Mas ela gritou, arrepelou-se, passou das marcas, chorou alto, deitou tudo cá para fora.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Foi como se muita coisa precisasse de ser vociferada. Há momentos assim, como as grandes tempestades em que tudo transborda por causa de chuvas e ventos que não se sabe de onde vieram. Nessas alturas também as palavras caem do céu arrastadas por feridas que nem sabemos que tínhamos, ou que se calhar nos infligimos naquele mesmo momento, em tempo real.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;">Não sei se tudo ficou dito. Não sei se vai haver mais gritaria. Por mim é indiferente, pois entre a raiva e os amigos, entre os ajustes de contas e o <em>home cinema,</em> que venha o diabo e escolha o que menos se oiça. As discussões domésticas, ao menos, têm uma pulsão dramática que suaviza o incómodo. <a href="http://janela48.blogspot.com/2010/10/janela-indiscreta.html"> Como as janelas iluminadas do prédio em frente</a>, também apelam ao nosso lado <i>voyeur</i>. </span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Edward Albee escreveu o que até agora é certamente a mais espantosa cena conjugal que dramaturgo algum jamais concebeu. E eu, no devido tempo, apaixonei-me por <i>Quem Tem Medo de Virginia Woolf? </i>Consumiu-me no cinema a paixão fabulosa de Richard Burton e Elisabeth Taylor, na pele dos dois heróis de Albee que são George e Martha, nessa longa noite em que despedaçam tudo o que de mais profundo pode haver entre um homem e uma mulher para, sobre a paisagem devastada, quando sobre ela se ergue a tímida auror</span></span><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">a de um novo dia, se amarem com a infinita ternura dos que sabem que vão continuar juntos. Encantou-me, em Lisboa, a excelente <i>performance</i> em palco de Jacinto Ramos e Glória de Matos - com Mário Pereira e Maria do Céu Guerra no jovem casal convidado para aquele fim de noite de copos e raiva, como inadvertidas mas necessárias testemunhas, a fim de que tudo fosse inelutável.</span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Sim, as paixões são plásticas, e fascinantes. </span></span><span style="font-family: Arial;">No fundo, estou curioso, confesso, de saber o que se vai seguir no andar de cima. A cidade grande tem destas coisas: impõe-nos a vida alheia de uma forma perversa. E anónima. E superficial. É que eu nunca vi os meus vizinhos de cima.</span><span style="font-family: 'Times New Roman';"> </span><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Ou, se os vi, não sei que são eles. A cidade são vidas que se alinham paralelas, juntas por força do espaço e, na maior parte das vezes, pouco mais do que isso.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Como já se passaram uns dias, penso que a tensão acalmou. Oxalá. Mas nem o <i>home cinema</i> nem os amigos se têm ouvido. Só os saltos dela. Que vida será a deles, depois da tempestade? O que se terá partido naquela <i><span class="Apple-style-span" style="font-style: normal;">noite</span>? </i>O que terão descoberto? Por mim, gosto de finais felizes, digo já.</span></div>JPBhttp://www.blogger.com/profile/17738339754747276838noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-576636221904267221.post-49634159976549482462010-11-10T13:23:00.002+00:002010-11-11T09:17:19.785+00:00Prova de vida<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhDshXej7432wjMAW2NQMNswXUPk-BSINHcZQ_LcCnOzaYhstRmMm9UcfxjrAK0cbf8QjXakOvfEL3lSNQe78-R0UZUc0DvYJ3Wcvz2_s52EfNgB8I7VRfflLU3-tfd7PjhKe8e6_L-Z2-a/s1600/DSC_0022.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="424" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhDshXej7432wjMAW2NQMNswXUPk-BSINHcZQ_LcCnOzaYhstRmMm9UcfxjrAK0cbf8QjXakOvfEL3lSNQe78-R0UZUc0DvYJ3Wcvz2_s52EfNgB8I7VRfflLU3-tfd7PjhKe8e6_L-Z2-a/s640/DSC_0022.JPG" width="640" /></a></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Num blogue que se preze, o respectivo titular deve pôr o seu fofo bichinho de estimação, seguindo a lógica de que um blogue é essencialmente um exercício de projeccção do "eu" na realidade virtual. Portanto, há que pontuá-lo de sinais conducentes a deixar impressas nessa mesma realidade (ainda que de forma aleatória, irregular, não-organizada e acentuadamente dispersa) marcas que de certa forma humanizem o autor e permitam aos muitos milhares de pessoas que o seguem e eventualmente idolatram identificar-se ainda mais com a sua sensibilidade e </span><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Weltanschauung">Weltanschauung</a></span><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">.</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">É por isto, mas sobretudo porque há muito tempo que aqui não venho e quero informar que estou bem muito obrigado, que hoje aqui ponho a minha gata.</span></div>JPBhttp://www.blogger.com/profile/17738339754747276838noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-576636221904267221.post-5601339997275038462010-10-25T02:03:00.016+01:002010-10-25T14:55:27.233+01:00Quem vai à guerra<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiW-7BOUdIkH1xHL8RI4-iHfNHxmRGgmGC_g3uUTKlqOXqHhBaazhyphenhyphenQWRFo1Gc3o2w_wPlDl0NG0N2SPTNq-5L_FpID2Q67vilx_gwUbosKUPNoasUZ1laZ17msPArkDXrPJwFK0mhyphenhyphenJNWV/s1600/digitalizar0002.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="408" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiW-7BOUdIkH1xHL8RI4-iHfNHxmRGgmGC_g3uUTKlqOXqHhBaazhyphenhyphenQWRFo1Gc3o2w_wPlDl0NG0N2SPTNq-5L_FpID2Q67vilx_gwUbosKUPNoasUZ1laZ17msPArkDXrPJwFK0mhyphenhyphenJNWV/s640/digitalizar0002.jpg" width="640" /></a></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Chamava-se Momade, era "miliciano" da Frelimo. Apanhámo-lo de manhãzinha fresca, mais a sua Simonov chinesa semi-automática, quando o coirão ainda dormia na palhota já as mulheres trabalhavam na machamba. Fora, como de costume, a tagarelice delas que nos guiara. Pouco depois ouvia-se ao longe o grito de "</span><i><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">tropa aué!</span></i><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">" repercutido pelos matos fora, mostrando que estávamos descobertos. Choveram, à nossa procura, três ou quatro morteiradas.</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Já nada tínhamos a fazer ali. Passáramos de caçadores a caçados. Sabíamos que eles tinham postos de sentinela espalhados, e sabíamos que o Momade sabia onde eram. Mas o gabiru, passado o susto, fazia-se de lucas e encolhia os ombros. Então o Vaz deu-lhe dois valentes cachações, agarrou-o pelo colarinho, encostou-lhe a faca de mato ao pescoço até quase fazer sangue e disse-lhe: "Ou nos dizes onde há sentinela ou faço-te como se faz às galinhas." Subitamente prestável, o Momade guiou-nos dali para fora que nem um campeão.</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Não sei se isto foram métodos de interrogatório um pouco mais agressivos, ou se já caem na definição de tortura. Seja como for, e dado o contexto, achei muito bem que tivessem sido empregues. Assim não houve mais violência nem chatices, e evitou-se cair em alguma emboscada onde até podia ter morrido alguém, deles ou nosso.</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Comparada com muitas outras que se passam na guerra, esta é, evidentemente, uma história de encantar*. A guerra é uma porcaria. Por isso é que eu não fico muito impressionado quando saem revelações do género das que sairam agora por via da <a href="http://wikileaks.org/">WikiLeaks</a>, revelando que morreu muita gente no Iraque e que houve casos de tortura. Se não tivesse morrido gente, e se não tivessem havido casos de tortura, é que eu estranhava. Ao contrário do que muita gente parece esquecer hoje em dia, a guerra está longe de ser uma coisa pacífica, e muito menos um passatempo de salão. A guerra não consiste só em em fazer mal a outras pessoas, mas em fazer todo o mal que for possível - incluindo matá-las - sofrendo o menos que formos capazes. </span><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Se num jogo de futebol, que é a guerra codificada, há quem deliberadamente parta a perna ao adversário no calor da luta, mesmo diante de um árbitro, de umas dezenas de milhares de espectadores e até de muitos mais na televisão, o que será numa guerra a sério, por mais códigos e regras que se queiram pôr nela? </span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Os tempos modernos procuraram fazer guerras sem mortos (pelo menos, mortos do "nosso" lado), recorrendo à tecnologia. No fundo, é a aplicação da máxima de George Patton, segundo o qual "nunca um sacana ganhou uma guerra morrendo pela sua pátria. As guerras ganham-se fazendo os outros sacanas morrerem pelas pátrias deles." S</span><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">ó os anjinhos deliberados em que se tornaram grande parte dos telespectadores ocidentais podem acreditar que as "bombas inteligentes" e os "ataques cirúrgicos" não partem mais do que telhados e paredes. E só quem nunca esteve numa zona de guerra pode acreditar que toda a gente se comporta segundo as regras da decência humana. </span><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Um combatente em acção não é um ser na plena posse do seu discernimento moral e ético. Um campo de batalha é, por definição, um ambiente altamente letal e stressante. Para mais, numa guerra suja como são as modernas guerras "assimétricas", nas quais um dos campos usa a população para se dissimular, discernir o inimigo entre os inocentes não é tarefa fácil</span><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> nem para quem esteja descansado a ver de longe, quanto mais para quem lá esteja no meio do inferno, ameaçado de morte. Eu, que me conheço, não sei como reagiria em situações limite em que visse cair gente à minha volta com tiros disparados do meio de uma multidão de inocentes. </span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Não, a tortura, a morte indiscriminada, a crueldade, são coisas que não têm desculpa nem justificação. Não são de admitir. A vigilância sobre excessos e abusos de toda a ordem é uma conquista civilizacional de que não podemos abdicar. Mas é útil não esquecer que a guerra não é exactamente o território da compaixão. Não se pode aceitá-la e depois ficar surpreendido por nela morrer gente e se cometerem violências. "A guerra é o Inferno," dizia William Tecumseh Sherman, general da guerra da Secessão. Ele sabia do que falava. Ao arrepio do que se costuma dizer, a primeira vítima da guerra não é a verdade. É a inocência.</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />
</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">*<span class="Apple-style-span" style="font-size: small;">O Momade acabou por confessar que o melhor que lhe podia ter acontecido foi ter sido apanhado pela tropa. Parece que tinha casado mas não pagara as cabras e as galinhas devidas pelo dote, e o sogro andava por aqueles matos fora de canhangulo em riste, ameaçando-o com uma carga de chumbo. Agora, a salvo e sem mulher, divertia-se imenso e fazia uns cobres a lavar a roupa da soldadesca. De resto, no próprio dia em que foi capturado e uma hora depois de ter levado os calduços, já estava a comer rações de combate e era amigo de metade do pelotão.</span></span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: small;"><br />
</span></span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><a href="http://janela48.blogspot.com/2009/11/porque-e-que-naquele-momento-eu-desisti.html">O diabo à solta nas margens do Nango</a></span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><a href="http://janela48.blogspot.com/2009/08/rapariga-maconde.html">A rapariga maconde</a></span></div>JPBhttp://www.blogger.com/profile/17738339754747276838noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-576636221904267221.post-38693030932099900592010-10-21T11:38:00.003+01:002010-10-21T14:16:10.596+01:00Douce France<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgV4ln1lLmA_kCYuyCysU2ApHiVtbQCbZLIsSgZOAsjodMXNhngqWhEmx5HyjnEBDZqMnDo29vciZrxPnb59R_9pIgbwJ4avA4xRqcWJA1EzqOlP9ySdULD-Ry6pHYYWCDiXFCpKr1aLGtE/s1600/img333.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="432" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgV4ln1lLmA_kCYuyCysU2ApHiVtbQCbZLIsSgZOAsjodMXNhngqWhEmx5HyjnEBDZqMnDo29vciZrxPnb59R_9pIgbwJ4avA4xRqcWJA1EzqOlP9ySdULD-Ry6pHYYWCDiXFCpKr1aLGtE/s640/img333.jpg" width="640" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><b><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Paris, 1982</span></b></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Em 1789, a França explode contra o direito divino dos reis, contra a velha ordem, por um mundo novo de liberdade, igualdade e fraternidade.</span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Em 1968, a França explode contra a sociedade de consumo e a alienação burguesa, pela imaginação ao poder e a proibição de proibir, entrevendo a praia sob as calçadas.</span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Em 2010, a França explode porque não se quer reformar dois anos mais tarde.</span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Cada época tem a França que merece.</span></div>JPBhttp://www.blogger.com/profile/17738339754747276838noreply@blogger.com10tag:blogger.com,1999:blog-576636221904267221.post-61655455913932938122010-10-20T15:13:00.002+01:002010-10-20T17:32:16.435+01:00Portugal S.A.<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi9UWMaj6SfbPRGZhy3o1UdOiYzAZC0Tvt41Sl0dlS62yebQ4Am9ltvPned-QboCPm7TKXbWbTJVHZeUS4LB4X41QqAhTEi6T0Y-E30yllx04-P-TgVElBQSWbekAL163FLKBSPUH9lB78l/s1600/DSC_0167.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="424" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi9UWMaj6SfbPRGZhy3o1UdOiYzAZC0Tvt41Sl0dlS62yebQ4Am9ltvPned-QboCPm7TKXbWbTJVHZeUS4LB4X41QqAhTEi6T0Y-E30yllx04-P-TgVElBQSWbekAL163FLKBSPUH9lB78l/s640/DSC_0167.JPG" width="640" /></a></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Querido blogue:</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Hoje acordei para o Outono, com frio e céu azul. A minha gata felpudinha miava a pedir-me comida, e havia passarinhos lá fora a lembrar-me que a vida não pára. A buganvília do pátio continua a encher tudo de folhas caídas, mas agora menos, que já está a ficar descarnadinha. O ar estava perfumado de ervas e com um travo a fumo das queimadas, ou das fogueiras dos ciganos, e eu disse que bom que é estar vivo e que bonito que é o mundo.</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Depois de tomar banho e fazer a minha higiene matinal fui até ao centro da vilazinha beber café e comprar o jornal para saber as notícias. É verdade que os jornais só falam de desgraças e de guerras, nunca têm coisas boas e felizes, e a televisão é a mesma merda. Mas mesmo assim eu gosto de saber o que se passa no mundo e à minha volta. </span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Então li no jornal que o director de um banco diz que "Portugal é viável, mas tem muito trabalho pela frente" e fiquei inquieto. Não por causa do trabalho, mas por ele dizer que somos viáveis. </span><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">É como quando nos dizem: "Estás óptimo!" Aí percebemos que estamos velhos. Da mesma forma eu percebi que Portugal pode não ser viável, senão ninguém precisava de dizer que o era. Não é que eu não suspeitasse, afinal Portugal é assim uma espécie de milagre desde a batalha de Ourique, e existe, distingue-se ou meramente se aguenta por via de alguns estrangeiros ou imigrantes de 2ª geração (D. Afonso Henriques, filho de um francês, Infante D. Henrique, filho de uma inglesa, Camões, filho nem se sabe de quem, e muitos outros filhos de senhoras, ou nem tanto). Mas divago.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;">Querido blogue: só um banqueiro poderia falar da viabilidade de um país como se fosse uma empresa. A verdade é que nenhum país é viável. Todos, pelo menos uma vez na sua história, já estiveram na falência (quando é um país acho que se diz bancarrota), e continuaram a existir. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;">A verdade é que nem quero pensar muito no que possa ser a inviabilidade de Portugal. Temo acordar de noite pressentindo beleguins à minha porta por conta dos chamados mercados internacionais, para me levarem de penhor a televisão, a bimby, o quadro da Última Ceia e quiçá a comida da gata. Imagino o Governo a meter os teres e haveres em caixas de papelão, antes de chegarem os senhores da comissão liquidatária. Fico sem saber para onde iremos, o que faremos, o que será de nós se se chegar à situação concreta da inviabilidade portuguesa. Passaremos a ser espanhóis? Seremos vendidos em leilão da Sotheby's, à mistura com quadros pré-rafaelitas e pratas venezianas? Em que lote ficarei eu? Serei comprado por um fundo de investimento do Texas ou passarei a fazer parte dos activos de uma companhia de seguros dinamarquesa? Divago outra vez.</span><br />
<span style="font-family: Arial;">Mas se a questão da viabilidade for mesmo real, então eu tenho uma sugestão: privatize-se o país. Venda-se isto a uma multinacional, que coloque cá um Conselho de Administração com administradores de vários pelouros em vez de ministros (a palavra até tem a mesma raiz), um CEO em vez de primeiro-ministro, e faça-se uma Assembleia Geral de quatro em quatro anos, para os eleger. Em vez de um discurso sobre o Estado da Nação, o CEO assina todos os anos um Relatório e Contas.</span></div><div align="justify"></div><div style="text-align: justify;"></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;">Se ao fim de um certo período a inviabilidade for certa, então, olha, transformem isto num Clube de Campo para milionários russos gerido por um condomínio internacional, ponham umas vaquinhas nos campos, umas meninas seminuas nas praias, umas lojinhas "gourmet" um pouco por todo o lado, sei lá que mais, eles é que sabem.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial;">Querido blogue, era só isto. Agora não tenho mais</span><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> assunto, de maneira que vou ficar por aqui. Vou almoçar pastéis de massa tenra e depois acho que vou dar um passeio. Não sei quando voltarei a escrever mas se passar muito tempo é porque não aconteceu nada de especial.</span></div>JPBhttp://www.blogger.com/profile/17738339754747276838noreply@blogger.com11tag:blogger.com,1999:blog-576636221904267221.post-71793869401283214572010-10-16T23:40:00.008+01:002010-10-17T14:17:20.847+01:00A raça do Chile<div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Não conheço o Chile, embora gostasse muito de o conhecer. Por isso falo de ouvir dizer e de ler. Do Chile só conheci chilenos, entre eles alguns exilados que trabalhavam numa residência universitária em Paris no início dos anos 80 e que, em vez de atenderem ao balcão do bar, passavam o tempo ao telefone a combinar golpes de Estado.</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">O Chile distingue-se de todos os outros países do mundo porque quase não tem largura, só comprimento. E sendo tão comprido, está lá perdido numa costa americana, com os Andes de um lado, o Pacífico de outro, desertos a norte e gelos a sul. É dos países mais isolados do mundo. Não admira que lhe pertença o pedaço de terra mais longe de qualquer outro, que é a ilha de Páscoa. Dá ideia que mesmo expandindo-se continua solitário.</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Teve um ditador de cara, aspecto e prática típicos das mais caricatas ditaduras sul-americanas à general Tapioca (vide histórias do Tintin), mas brutal como a mais fria das realidades, e apoiado num dos exércitos mais "prussianos" do mundo. Foi mártir e heróico nos anos de brasa, laboratório social, exemplo, bandeira, inspiração tanto para libertários como para <i>Chicago boys</i>. Tem nitratos, minérios, revolucionários, uma praça em Lisboa, terremotos medonhos. Tem excelente vinho, que ainda há pouco bebi. E teve uma história magnífica, esta dos mineiros.</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Quando tudo começou, tive medo, confesso. Medo de que uma vez mais a realidade viesse estragar tudo - matando os mineiros, ou transformando o seu drama em mais um circo ódio-visual.</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Mas nada disto aconteceu. Apesar de tudo, apesar de todos os aproveitamentos político-mediáticos, a história dos mineiros chilenos de San José foi uma história perfeita que me reconciliou um pouco com o género humano.</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Primeiro, pela forma espantosa como eles se comportaram - organizando-se quando nada nem ninguém sabia deles, conservando a esperança, lutando da única maneira que podiam: mantendo-se homens na sua dignidade fundamental. E quando uma sonda lhes chegou, mostrando que alguém os procurava cá em cima, limitaram-se a dizer que estavam todos bem, e onde. Sem lamúrias nem pieguice.</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Depois, pela pronta resposta dada, recorrendo a tudo quanto a tecnologia podia dar. A operação foi exemplar: rápida, eficaz, precisa. Sem querer bater demais no ceguinho, e assumindo alguma injustiça filha do desconsolo com o meu país, suspeito que a estas horas, em Portugal, ainda estaria uma comissão a acabar de se instalar nos seus novos gabinetes para começar a estudar uma solução para o assunto - acabando toda a gente por se esquecer, um mês mais tarde, que havia 33 desgraçados soterrados lá em baixo.</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Mas o Chile é um país civilizado e organizado, e tem orgulho em sê-lo. </span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Eu confesso que fiquei espantado quando comecei a ver saír os mineiros. Esperava ver emergir seres esquálidos, esgaseados, semi-mortos de fadiga e desespero, e vejo sair cavalheiros bem barbeados, de cabelo cortado, nutridos e em forma, como se saíssem de um </span><i><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">spa,</span></i><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> e quase tão calmos como quem chega de um fim de semana no Algarve - embora admita que os óculos escuros tenham ajudado a esta imagem.</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Primeiro senti-me defraudado: como toda a gente, tinha-me preparado para me apiedar. E nenhum daqueles homens me parecia digno de piedade, antes pelo contrário. Para quem literalmente renascia, parido pelas entranhas da terra numa espécie de cesariana ou laparotomia geológica, estavam com demasiado bom aspecto.</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Mas depois percebi a grandeza de tudo aquilo. Aqueles homens nunca quiseram inspirar piedade, e não seria agora que o iam querer. Talvez por </span><i><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">machismo</span></i><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> sul-americano, talvez por orgulho na sua condição de mineiros, provavelmente por tudo isto e por muito mais, fizeram questão de sair do seu inferno com o desplante de um toureiro que não descura a pose mesmo depois de ser colhido, e tenta fazer de conta que nada lhe aconteceu. Aqueles 33 homens, que no escuro de um buraco a 700 metros abaixo da terra, rodeados por milhões de toneladas de rocha, mantiveram a sua condição humana - a sua organização, as suas rotinas, as suas hierarquias, a sua coragem e dignidade individuais, o seu sangue-frio perante a morte sempre iminente - quiseram manter tudo isso quando subiram e se mostraram, ao mundo e aos que, sem hesitar ou perder um segundo, os ajudaram a sair acreditando sempre que o conseguiriam fazer. Sem choros, sem lamentos, sem remoques, sem acusações vãs. Apenas com uma frase e um voto: "Que isto nunca mais aconteça."</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Foi uma história exemplar. Aconteça o que acontecer a seguir, senti-me bem com os homens, nestes dias de desencanto. E acredito que aqueles 33 mineiros estejam neste momento a pensar na sorte que tiveram em tudo se ter passado no Chile. Não é pouca coisa para se dizer de um país.</span></div>JPBhttp://www.blogger.com/profile/17738339754747276838noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-576636221904267221.post-6718345968838957972010-10-14T00:12:00.003+01:002010-11-07T09:19:37.604+00:00Intermezzo<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjTdLC3POUJ_f1QrLdCRZ7gf6x1l-77jSJeJGOWHwBLLL46vsaw1sQ8zgP5k0fejCZ0X873JEdK6dXeqIbLrfkeh5y-QfCOxDa0XWCtjwRvYW45ToUTwmuFOOK816520clDBBqhiWaL4B49/s1600/DSC_0333.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="424" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjTdLC3POUJ_f1QrLdCRZ7gf6x1l-77jSJeJGOWHwBLLL46vsaw1sQ8zgP5k0fejCZ0X873JEdK6dXeqIbLrfkeh5y-QfCOxDa0XWCtjwRvYW45ToUTwmuFOOK816520clDBBqhiWaL4B49/s640/DSC_0333.JPG" width="640" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><b><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">São Paulo, Outubro</span></b></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">As cidades têm correntes, como os oceanos. A maior parte é invisível, e só as percebemos quando estamos nelas e sentimos, a princípio levemente, que estamos a ser levados. Sem sabermos porquê e como, somos arrastados ao longo de leitos que pressentimos não serem da nossa escolha. Uma cidade grande é um corpo que nos leva. E assim acabamos numa rua em que não pensámos, a beber encostados a um balcão que não preferimos. Algo nos chamou para ali, mas nunca saberemos o que foi.</span></div>JPBhttp://www.blogger.com/profile/17738339754747276838noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-576636221904267221.post-28462604005196240452010-10-10T08:37:00.001+01:002010-10-10T08:43:07.613+01:00A casa do sol nascente<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgPVRustwhVFFE0CsOGSeXz7OlteoHxRjvYjraP_KqyjCmrP9q2H8Af_CxmoSAfpf5R-yhfFMfZyRiLNZc0YjO-pVznS_dJxQEkANgkWnz6FWaV_IB4K0wxhfuUmTRB9L4Yf2FhwfoMwK_J/s1600/DSC_0426.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="424" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgPVRustwhVFFE0CsOGSeXz7OlteoHxRjvYjraP_KqyjCmrP9q2H8Af_CxmoSAfpf5R-yhfFMfZyRiLNZc0YjO-pVznS_dJxQEkANgkWnz6FWaV_IB4K0wxhfuUmTRB9L4Yf2FhwfoMwK_J/s640/DSC_0426.JPG" width="640" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><b>Domingo, 7 e 45. </b></span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">A nossa casa é onde gostamos de sentir o cheiro das manhãs.</span></div>JPBhttp://www.blogger.com/profile/17738339754747276838noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-576636221904267221.post-31644950541506182152010-10-09T23:49:00.012+01:002010-10-10T01:55:42.935+01:00Pessoa no seu labirinto<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj0ZxM_IhITy-HLQz5ADKWqqhh0WxguSr5MSHCWDDMr3vJwhhu5Yz4tz1Wk8kSfBk5HExx9Yj9WP_Xm6ZBTyc9uQGHH-DiOFfDBVhfJ0ROjsAbmRPWKC_jqLlLQmC8gZSlqneQkK7G8wlA4/s1600/DSC_0191.JPG" imageanchor="1" style="clear: left; display: inline !important; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="376" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj0ZxM_IhITy-HLQz5ADKWqqhh0WxguSr5MSHCWDDMr3vJwhhu5Yz4tz1Wk8kSfBk5HExx9Yj9WP_Xm6ZBTyc9uQGHH-DiOFfDBVhfJ0ROjsAbmRPWKC_jqLlLQmC8gZSlqneQkK7G8wlA4/s640/DSC_0191.JPG" width="640" /></a></div><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><div style="text-align: justify;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgIe3EkcPdqlsWKQqV4ENVsanD-zqfIaCqQVJRUrg88dlzAKmRTSCsT4zjwK0tqVx-ANvAX1KgoML3_QS9a5Q4kvvCNeFUb4l4Wc7nxHuu0U-53aTcVZD8WzAttu2q4Uu1B-GH4BZuEppc3/s1600/DSC_0202.JPG" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: justify;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgIe3EkcPdqlsWKQqV4ENVsanD-zqfIaCqQVJRUrg88dlzAKmRTSCsT4zjwK0tqVx-ANvAX1KgoML3_QS9a5Q4kvvCNeFUb4l4Wc7nxHuu0U-53aTcVZD8WzAttu2q4Uu1B-GH4BZuEppc3/s320/DSC_0202.JPG" width="212" /></a>Para percorrermos o universo labiríntico de Fernando Pessoa, nada como um espaço labiríntico, obscurecido, espécie de percurso iniciático em cujas paredes negras se suspendem fragmentos iluminados de poemas numa ordem anárquica. </div><div style="text-align: justify;">Alguns só podem ler-se ao espelho, a maioria surge como se fosse do nada, suspensos num espaço negro. E assim mergulhamos literalmente na heteronimia, na perplexidade, na pluralidade, na própria demanda pessoana.<br />
Depois há écrãs tácteis onde folheamos os manuscritos. Há um pêndulo misterioso por detrás de painéis de S. Vicente translúcidos. E há uma mesa corrida sobre a qual se espalham as mais variada edições de Pessoa, manuseadas por crescidos, adolescentes e crianças das escolas.</div></span><br />
<div><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiVADbWOFnoIuQjE_KGg3QxRBap2OFaqP5DURBCirDwYou0TjRuzNnNH3M-luYJUM6KYdtWuNT90fSVdezlA4Ke08F7GtgvbP3CHM5bVBwpdK1XshQtDFbf2SUP_fxrLs7Vhz2gC9-KLJ0w/s1600/DSC_0203.JPG" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: justify;"><img border="0" height="424" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiVADbWOFnoIuQjE_KGg3QxRBap2OFaqP5DURBCirDwYou0TjRuzNnNH3M-luYJUM6KYdtWuNT90fSVdezlA4Ke08F7GtgvbP3CHM5bVBwpdK1XshQtDFbf2SUP_fxrLs7Vhz2gC9-KLJ0w/s640/DSC_0203.JPG" width="640" /></a><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><div style="text-align: justify;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgeEY3-i4VillbsOGzieTPv1E-2Wve2HonxwZpK4_hxgJDPQAbsgB4l6GmxbeYGdf_WoQj0OwDGibIU-VM0Siz09UIII9xV6HVOO1RpEACnFZQqAy6VT2J4EI5Rop95rPC4hy8tCnLupaNe/s1600/DSC_0197.JPG" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="424" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgeEY3-i4VillbsOGzieTPv1E-2Wve2HonxwZpK4_hxgJDPQAbsgB4l6GmxbeYGdf_WoQj0OwDGibIU-VM0Siz09UIII9xV6HVOO1RpEACnFZQqAy6VT2J4EI5Rop95rPC4hy8tCnLupaNe/s640/DSC_0197.JPG" width="640" /></a><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Times New Roman';"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">É a</span></span><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Times New Roman';"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> exposição temporária sobre Fernando Pessoa no primeiro piso do Museu da Língua Portuguesa, devidamente existente na maior cidade de língua portuguesa do mundo. Eu nunca tinha visto nada assim sobre Pessoa. Ainda bem que há o Brasil para tomar conta dos meus poetas. </span></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Times New Roman';"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Times New Roman';"></span></span></span></div></span></div>JPBhttp://www.blogger.com/profile/17738339754747276838noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-576636221904267221.post-48643711314941297312010-10-09T16:51:00.014+01:002010-11-07T09:23:24.179+00:00O saco e a tralha<div style="text-align: justify;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg1UMaVGBVJb-SR7fCD6vowp5KZVgtEaVs5MURG3OcY4sIum9B4mLwpUqZyz4xvYC46yXnLX7YeuZseIzByiOUbuhW38rb_6Q0-TxqDynFl28af3Hx_8lO31EjeoFNM-PoUxHfuthw19GSB/s1600/DSC_0366.JPG" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg1UMaVGBVJb-SR7fCD6vowp5KZVgtEaVs5MURG3OcY4sIum9B4mLwpUqZyz4xvYC46yXnLX7YeuZseIzByiOUbuhW38rb_6Q0-TxqDynFl28af3Hx_8lO31EjeoFNM-PoUxHfuthw19GSB/s400/DSC_0366.JPG" width="265" /></a><span class="Apple-style-span" style="-webkit-text-decorations-in-effect: none; color: black;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Na Bienal de São Paulo, instalada num espaço ondulante de luz e curvas brancas lançado por Oscar Niemeyer, lembrei-me do meu irmão que um dia juntou umas tralhas que havia lá em casa dos pais, meteu tudo num saco e foi para a feira da Ladra tentar vendê-las. Ao fim do dia, tinha vendido apenas uma: o saco. </span></span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Quando o que há de mais interessante numa exposição é o sítio em que ela está instalada, algo vai mal com ela, ou connosco. Mas eu sei que o problema não é só meu. A arte contemporânea está com o enorme problema de se achar a si própria e de se justificar num mundo inundado de mensagens. A tecnologia é capaz de nos fornecer experiências estéticas e sensoriais em qualidade e quantidade nunca vistas, e a arte ressente-se da concorrência. </span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Então, refugia-se no conceito, no puro intelectualismo, lá onde a tecnologia nunca poderá chegar - mas facilmente alcançável pelo charlatanismo. A arte conceptual anda neste traço vermelho. Um dia eu dou uma mijadela no chão da sala e digo que é uma </span><i><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">instalação</span></i><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">, e aposto que sou aplaudido.</span></div>JPBhttp://www.blogger.com/profile/17738339754747276838noreply@blogger.com1