segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Comment peut-on être suisse?

Eu sempre embirrei um bocado com os suíços. Orson Welles já não os respeitava muito, ao dizer, por interposta personagem ("O Terceiro Homem") que enquanto a Itália, em séculos de convulsão e violência, produzira Miguel Ângelo, Leonardo e tudo isso, a Suíça, em séculos de serena democracia, nada mais produzira do que o relógio de cuco. Acrescentarei os chocolates, mas isso também a Itália fez.
Passei a embirrar ainda mais quando uma noite em Genebra, com dois graus negativos e nenhum carro num raio de vários quilómetros em redor, vi um suíço esperar ordeira e estupidamente que o sinal mudasse para atravessar a rua.
Há mais de quatro séculos, no Império Otomano, Solimão o Magnífico recusava-se a entrar em igrejas cristãs, porque se o fizesse torná-las-ia parte integrante do Dar al-Islam, a terra do Islão, e deixariam de ser igrejas. Os cristãos podiam construí-las. Só não podiam é fazer as torres das ditas maiores que os minaretes das mesquitas, o que não deixava de ser justo. Ontem, em referendo, os suíços proibiram os muçulmanos de construírem minaretes na Suíça - um país que só deu o direito de voto às mullheres muitos anos depois da Turquia.
Agora venham falar-me de retrocessos civilizacionais. Afinal onde está a barbárie?
Nas Cartas Persas do barão de Montesquieu perguntava-se: "Como se pode ser persa?" Eu cá pergunto é como se pode ser suíço.

6 comentários:

  1. as coisas mais agressivas que saíram da suiça foram o tzara, os young gods e o chapuisat.
    mas isto é apenas um sinal claro que a evolução não é necessariamente positiva e que estamos todos à beira do fim dos tempos. haverá uma série de guerras identitárias e a civilização ocidental matar-se-á. a nossa sorte era um meteorito ou chuvas ácidas. ou peste negra.

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  2. Desde o 'sim' à iniciativa da UDC 'anti-minaretes', a suiça agita-se em todos os sentidos: uns que se mexem para levar a referendo uma nova iniciativa que se sobreponha constitucionalmente à futura lei anti-minaretes; outros que querem re-manipular o povo e fazer passar novas iniciativas.
    Uma grande maioria ficou incrédula com o resultado porque simplesmente se convenceram (à partida) que a iniciativa da UDC nunca iria passar... Por isso presumo que grande parte dos votos por correspondência nunca chegaram a partir.
    Ouvi ainda quem dissesse que a culpa foi do sistema dos próprios votos por correspondência, ou seja, muitos cidadãos enviaram o voto antes de ouvirem atentamente todas as discussões e todos os argumentos na praça pública.

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  3. "esperar ordeira e estupidamente" é um sinal da aceitação de regras outras bem mais importantes e com as quais os Suíços não parecem dar-se mal. Nem os nórdicos. Mas nós é que somos rebeldes, giros e espertos. Os nossos pobres são prova disso.

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  4. João Pedro Lopes:
    As regras são para se cumprir. Mas também são para se transgredir, quando a sua aplicação não faz sentido. Foi a transgredir regras - e leis, e ideias estabelecidas - que o mundo avançou. Nós não somos mais giros ou mais espertos que os suíços ou os nórdicos. Mas eles também não o são mais do que nós.
    Insisto: esperar que o sinal mude para verde, às tantas de uma noite gelada e sem nenhum carro à vista, pode ser uma belíssima atitude cívica - mas é estúpido. E foi disso que falei, não de outras coisas que os suíços têm de bom - e de esperto, e de giro.

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