Praia do Silêncio (Astúrias)
Se eu pudesse trincar a terra toda
E sentir-lhe um paladar
E se a terra fosse uma coisa para trincar
Seria mais feliz um momento...
Mas eu nem sempre quero ser feliz.
É preciso ser de vez em quando infeliz
Para se poder ser natural...
Nem tudo é dias de sol,
Nem tudo é dias de sol,
E a chuva, quando falta muito, pede-se.
Por isso tomo a infelicidade com a felicidade
Naturalmente, como quem não estranha
Que haja montanhas e planícies
E que haja rochedos e erva...
O que é preciso é ser-se natural e calmo
Na felicidade ou na infelicidade,
Sentir como quem olha,
Pensar como quem anda,
E quando se vai morrer, lembrar-se de que o dia morre,
E que o poente é belo e é bela a noite que fica...
Assim é e assim seja...
Assim é e assim seja...
Alberto Caeiro, "O Guardador de Rebanhos" - Poema XXI
Obrigada.
ResponderEliminarTó
"(...)Quando me sento a escrever versos
ResponderEliminarOu, passeando pelos caminhos ou pelos atalhos,
Escrevo versos num papel que está no meu pensamento,
Sinto um cajado nas mãos
E vejo um recorte de mim
No cimo dum outeiro,
Olhando para o meu rebanho e vendo as minhas ideias
Ou olhando para as minhas ideias e vendo o meu rebanho,
E sorrindo vagamente como quem não compreende o que se diz
E quer fingir que compreende."
"(...)Não tenho ambições nem desejos.
Ser poeta não é ambição minha.
É a minha maneira de estar sozinho."
Esses versos são parte de um espetáculo dentro de outro espetáculo.
É bom estar bem vivo, assim, na memória de quem nos ama.
ResponderEliminarUm beijo aos dois e vivam a felicidade que, como disse o poeta, é feita de bons e maus momentos.
Teresinha
Uma bela foto (é tua?)a acompanhar um belo poema.
ResponderEliminarEu, inculto me confesso, nunca li Alberto Caeiro nem os outros Pessoas, assim de livro comprado ou emprestado; leio aqui e ali fragmentos seleccionados pelos alguens que os leram, e vai-me bastando; por isso agradeço-lhe ter publicado este sublime texto.
ResponderEliminarMas está visto que tenho que comprar o livro, se quero perceber os comentários dos (porquê?) Anónimos, ou acha que não vale a pena? Quer dizer, o livro valerá, mas... ora, deixe para lá. Obrigado de novo.
Abel:
ResponderEliminarEste post tem uma componente privada. Alguém de quem eu gostava muito, e de quem alguém que eu gosto muito gostava ainda mais, morreu. Tanto Pessoa em geral (e Caeiro em particular) como aquele local da foto eram parte importante do seu tesouro íntimo. E também do meu.
JPB:
ResponderEliminarMais agradecido e sensibilizado fico com este seu modo de compartir.
Fica o abraço possível.
Sem querer ser presunçosa, ao ler este post, pressenti exactamente o que sucedeu como comprovei pela resposta que deu ao Abel.
ResponderEliminarBonita homenagem, Zé Pedro.
Um abraço
Lisa
bem... e de JPG já se sabe que chama José Pedro, só falta o G...uimarães?
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