Cacilhas
Vou divagar, que tenho pressa: isto vai mal. A economia não cresce nem aparece. Os mercados não acreditam em Portugal e, em troca, Portugal não acredita nos mercados. Ou é ao contrário? Seja como for, é uma enorme dúvida externa, que acentua as nossas dívidas metódicas. São dívidas existenciais. São crónicas, e dos bons malandros que sempre fomos. Os tempos são cépticos e assépticos, e não estão para graças a Deus, que o diga o Papa. O rating de Ratzinger está baixo, como o nosso: dantes era a Joana que comia a papa, agora é o Papa que come a Joana. Sei que vou pagar por esta, mas prefiro pagá-la a apagá-la. Se há Deus, que me acuda. E se não há?
Se não há, adeus ao que é de Deus, a César o que é de todos os santos, que assim também não existem. Prefiro pensar que se não houvesse, teria de ser inventado. E foi. Depois Deus inventou o Homem à Sua imagem. Os gregos tinham inventado Deuses à imagem do Homem, e por isso o Olimpo era o que era: uma casa de doidos. Hoje é um Zeus nos acuda em Atenas, mas isso é apenas outra História. Clássica, mas sobretudo eurótica. Nem ao mero poeta lembraria tal odisseia.
Ver-nos-emos nós gregos? Longe vá o agora, que o passado é cada vez mais imprevisível: o que teremos nós feito, para aqui chegarmos? Perdemo-nos em flagrantes de litro, a vida para nós foi mais bolos, e esquecemo-nos de que o creme não compensa. Vamos chorar sobre o deleite derramado? Por mim, dispenso logo existo. Mas insisto: o futuro já não é o que foi, e se calhar não havia razão para ter sido o que chegou a ser.
Dispenso, mas depois compenso. Não tenho soluções para a crise - o único remédio é fazer cortes de ténis menos caros, e menos carros. Juntemos o fútil ao agradável: agora que os dias são menos noite, vou contemplar o meu próprio destino ao sol do fim de tarde bebendo um gin platónico, como o amor que é fogo que arde sem se vir - assim começaria o meu poema, que nem é ode nem sai de cima. Vendo bem, façamos o gin tónico, e também o amor. Os tempos, direi melhor, não estão para desgraças, a vida é demasiado curta para beber vinho barato. E tristezas não apagam dúvidas.
Dê adeus o que não é de Deus que ele próprio é ateu e de quebra, não chorar o vinho derramado, afinal Baco é um deus...ou não?
ResponderEliminarDeve ser o deus das bacoradas.
ResponderEliminarDivagando, divagando, eu pergunto-me quando terei notícias.
ResponderEliminarSe continuar anónimo, nunca.
ResponderEliminarAdeus aos cartões de crédito que deus deu para deleite de alguns deixando outros tantos a murmurar de inveja, pedindo ao seu Zeus a graça do Divino Espirito Santo.
ResponderEliminarVamos bem...
Li uma citaçao dum inglês(sir Charles Barclay escrevendo no Foreign Office em 1929)da qual escrevo umaa passagens que me fez estremecer:"a nação portuguesa, em parte devido á grande mistura de sangues... em parte devido ao irritante clima,é fisica e mentalmente degenerada.... incapaz de um esforço regular ou de um pensamento lógico"
Será que ainda somos assim?
Será que gostamos muito do velho ditado "uma Maria vai com as outras "?
MJM
JPB, de todas as divagações que já li e ouvi sobre a nossa «dúvida externa», esta parece-me, sem sombra de dívida, a mais adequada ao momento. ;-)
ResponderEliminarNão divido disso, Luísa.
ResponderEliminarAnónimo....Pois claro!
ResponderEliminarDinah...e não sei fazer melhor, sorry
Que bela divagação com Cacilhas em fundo.
ResponderEliminarGRAÇAS A DEUS QUE SOU ATEU!!!!!!!!!!
ResponderEliminarOlha. Eu é que gostava de ter escrito isto.
ResponderEliminarEstá bem assim?
Com a dúvida vénia.
JjS
estou cheia de inveja deste texto.
ResponderEliminarA todos: Obrigado, meu povo que lavas no Ritz.
ResponderEliminarFantasticamente, fantástico!
ResponderEliminarestá espectacular!!!
ResponderEliminarComo economista, voto em ti para ministro das Finanças... Percebes disto a potes!
ResponderEliminarAté sinto saudades do «Scrabble». Graças a ele e a ti, aprendi a ler e escrever. Agora agora inicio-me nos números da nossa desilusão. Pas mal!
Aprendeste?
ResponderEliminar