Para que este estabelecimento não passe o Natal com uma foto de peixes despedaçados a encabeçá-lo, deixo aqui uma árvore. Também é trazida pela memória acordada pela revisão de fotos guardadas numa gaveta, e foi tirada perto do local da anterior.
Esta árvore fantástica não é um pinheiro natalício, mas também tem algo a ver com a época. Dá pelo nome técnico de Boswellia sacra, cresce nos wadis, leitos secos dos rios do sul da Arábia e do Corno de África, alimentando-se da vaga humidade deixada no solo pelas torrentes episódicas, e é da sua resina que se faz o incenso que, com o ouro e a mirra, os Reis magos levaram ao Deus menino.
O incenso valia, na Antiguidade, o seu peso em ouro. Era objecto de um comércio chorudo, cujas rotas se comparavam à da seda. Provinha sobretudo destas regiões, e era levado em longas caravanas através de algumas das regiões mais inóspitas do planeta até aos portos mediterrânicos, para alimentar a América da altura, que era o Império Romano. Nele se consumia avidamente o incenso às toneladas - para os templos, para a medicina, para os cosméticos. Era tão precioso como hoje é o petróleo.
Estas coisas são como as cerejas, e por isso um dia destes vou aqui contar como fui ver a Cidade Perdida engolida pelo deserto, de onde há três mil anos partiam as caravanas e se calhar os três Magos. Há tempo: ainda agora eles vão a caminho. E eu também. Feliz Natal.