sábado, 27 de fevereiro de 2010

Momento zen

A Madeira foi há uma semana. Hoje sopra lá fora um vento do caraças, o mar quase atirou a praia de Santo Amaro de Oeiras para cima da Marginal, há alerta vermelho por esse país fora, no Chile partiu-se tudo e ondas de tsunami estão a atravessar o Pacífico à velocidade de um Jumbo - sabe-se lá o que farão onde baterem. Isto está um desassossego.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Intermezzo


Estou a ouvir esta mulher a cantar O mio babbino caro. Canta com uma bonita voz de mezzosoprano, mas um sotaque estranho. Chama-se Natalya Lopushanskaya, que raio de nome. É ucraniana.
A Itália e a música italiana têm um poder que vence todas as asperezas. Natalya não era grande espingarda a cantá-las, e na verdade estava mais à vontade em Oci cernye, Calinka malinka e outras eslavices. Cada um é para o que nasce e onde nasce, cada vez acredito mais nisto. Mas a verdade é que naquela noite eu e a mulher da minh'alma ficámos ali a ouvi-la, e ao acordeão do seu Anatoly, na Piazza della Repubblica de Florença. No fim deitámos-lhes cinco euros na mala e comprámos-lhes o CD.
Estou a tocá-lo aqui junto ao Atlântico, que oiço rugir lá em baixo, junto à Marginal, numa noite ventosa. Por mais que tenha querido honrar a alma do país que a acolhia, Natalya não consegue esconder um calor diferente na voz. Não é o calor do sol italiano, mas o de fogueiras na invernia. Canta bem, mas não me alegra. Lembra-me, contudo, uma noite quente em que a ouvimos sob as arcadas da Piazza quando nos levávamos um ao outro pela mão através da mais bela cidade do mundo, por entre estátuas nuas, cuspidores de fogo, adivinhos, campanários, palhaços, carabineiros, turistas, putas, saltimbancos e mendigos. Ali, Natalya fazia sentido, ela cantava o momento. Florença era nossa. O mundo inteiro era nosso. E continua a ser.
A música também é isto. Bem hajas, Natalya.Tudo de bom para ti, onde quer que estejas.