sábado, 9 de outubro de 2010

O saco e a tralha

Na Bienal de São Paulo, instalada num espaço ondulante  de luz e curvas brancas lançado por Oscar Niemeyer, lembrei-me do meu irmão que um dia juntou umas tralhas que havia lá em casa dos pais, meteu tudo num saco e foi para a feira da Ladra tentar vendê-las. Ao fim do dia, tinha vendido apenas uma: o saco. 
Quando o que há de mais interessante numa exposição é o sítio em que ela está instalada, algo vai mal com ela, ou connosco. Mas eu sei que o problema não é só meu. A arte contemporânea está com o enorme problema de se achar a si própria e de se justificar num mundo inundado de mensagens. A tecnologia é capaz de nos fornecer experiências estéticas e sensoriais em qualidade e quantidade nunca vistas, e a arte ressente-se da concorrência. 
Então, refugia-se no conceito, no puro intelectualismo, lá onde a tecnologia nunca poderá chegar - mas facilmente alcançável pelo charlatanismo. A arte conceptual anda neste traço vermelho. Um dia eu dou uma mijadela no chão da sala e digo que é uma instalação, e aposto que sou aplaudido.

1 comentário: